VIDA E DOUTRINA CRISTÃ

Israel:
Historia e Profecia

Parte II

SEIS PERÍODOS

A partir do Êxodo e a promulgação da lei, a existência nacional de Israel dividiu-se em seis períodos ou fases, antes de sua supressão como nação e sua dispersão sobre toda a terra.

  1. O primeiro foi a viagem de quarenta anos através do deserto. Por causa de sua atitude rebelde, particularmente desenvolvida na rejeição do relatório dos espiões, relativo à conquista do país de Canaã, (Números 14) Jeová decidiu fazer morrer no deserto a todos os varões da nação de vinte anos e mais de idade, após sua saída do Egito. Só foram exceção os dois espiões fiéis, Calebe e Josué.
  2. Após a morte de Moisés, Josué tornou-se o líder da nação e, debaixo de seu comando, atravessou o Jordão, para ir a Terra prometida de Canaã. Neste momento começou uma nova fase: a divisão do país entre as doze tribos e os conflitos que resultaram. Josué foi um líder fiel—fiel a seu povo e fiel a Deus.
  3. Após a morte de Josué, começou o período dos juízes, durante o qual a nação não teve governo central; e cada um era livre para atuar como quisesse, segundo o próprio entendimento de suas responsabilidades frente à lei recebida no Sinai. O comportamento dos israelitas esteve longe de ser saudável. Quando foram demasiadamente comprometidos no pecado, particularmente aquele da idolatria, Jeová os castigou, pela invasão das nações vizinhas, como os midianitas e outras. Depois, quando clamaram a Jeová, juízes foram designados por Ele para livrá-los.
  4. O último dos juízes foi Samuel, que também foi profeta. Durante o tempo de seu serviço, o povo reclamava por um rei. Os israelitas queriam ser governados como outros povos. Jeová disse a Samuel que lhes advertisse contra as dificuldades que encontrariam debaixo do governo de um rei. No entanto, eles fizeram questão de ter um, e Jeová ordenou a Samuel que ungisse a um rei para governá-los. Seu primeiro rei foi Saul, que depois foi rejeitado por Jeová por causa de sua maldade e que se suicidou ignominíosamente.

Davi foi escolhido para suceder a Saul. Deus deu este testemunho quanto a Davi: “Achei a Davi, filho de Jessé, homem segundo o meu coração.” (Atos 13:22). Escolheu à família de Davi da qual sairia o grande Libertador de Israel e de toda a terra: o Messias. Falando de Salomão, o filho de Davi, que devia suceder sobre o trono de Israel, Jeová disse: “Mas não retirarei dele a minha benignidade como a retirei de Saul, a quem tirei de diante de ti. A tua casa, porém, e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será estabelecido para sempre.” (2 Samuel 7:15,16)

A Bíblia relata esta promessa, falando das “firmes beneficências prometidas a Davi” (Isaías 55:3). Descreve-se assim porque seu cumprimento precisou da misericórdia divina. Não só Salomão, senão que também outros sucessores na descendência de Davi, transgrediram a lei divina; no entanto, a realeza não foi tirada desta família. É interessante ler como Jeová protegeu aos herdeiros do trono de Davi, durante o período dos reis.

Após a morte de Salomão, o reino foi dividido. Roboão era o herdeiro verdadeiro do trono; mas, debaixo da conduta de Jeroboão, dez das tribos separaram-se de Judá e Benjamim; os reis da descendência de Davi reinaram sobre estas duas tribos. Mas isto não mudou de nenhum modo o desígnio original de Deus, concernente ao grande Rei e ao Messias prometido, que devia vir da tribo de Judá. (Gênesis 49:10)

Sem exceção, os reis das dez tribos da nação foram maus; e, a seu devido tempo, foram vencidos pelos assírios e levados cativos a Assíria. Alguns reis da descendência de Davi, que reinaram sobre as duas tribos, foram fiéis a Deus; outros não o foram. O último cita-se em Ezequiel 21:25 como um “profano e ímpio príncipe de Israel, cujo dia é chegado no tempo da punição final.”

Isto foi no ano 606 a.C., quando Nabucodonosor, rei de Babilônia, completou sua conquista da Terra Santa, destruiu Jerusalém, fez prisioneiro ao rei Zedequias e ao povo, e os levou a Babilônia. A primeira vista, poderia parecer que neste momento, a promessa divina que a descendência dos reis de Davi será protegida “O cetro não se arredará de Judá” (Gênesis 49:10) tinha falhado; mas não foi assim. O profeta Ezequiel disse: “não continuará assim, até que venha aquele a quem pertence de direito; e lho darei a ele.” (Ezequiel 21:27); que indica que o reino foi suspenso por um tempo e que seria restabelecido mais tarde.

  1. A fase seguinte, na existência nacional de Israel, foi o período do cativeiro em Babilônia. Durou setenta anos, a nação não foi destruída, ainda que tivesse perdido sua independência nacional. Ao fim do cativeiro, a liberdade de regressar a Palestina foi concedida ao povo; mas a nação não recobrou sua liberdade inteira; ela ficou na servidão.

Uma das personagens notáveis da história de Israel se fez célebre durante o cativeiro em Babilônia. Foi o profeta Daniel. Ele não só serviu escrupulosamente a Deus na qualidade de profeta, senão que também chegou a ser o primeiro ministro do império obteve o terceiro lugar no governo, e conservou esta alta posição debaixo do reino do rei dos medos, que conquistou Babilônia. Recusando obedecer ao edito do rei, Daniel foi jogado na cova dos leões, onde sua vida foi protegida milagrosamente.

  1. No final dos setenta anos de cativeiro, o rei Ciro publicou um decreto, permitindo que os israelitas regressassem a seu país e reconstruíssem seu templo em Jerusalém. Em 2 Crônicas 36:22 e Esdras 1:1(TB), lemos que: “Moveu Jeová o espírito de Ciro, rei de Pérsia”, com o fim de publicar este decreto. Daniel ainda vivia debaixo do reino de Ciro e foi provavelmente por meio dele que Jeová incitou ao rei a tomar esta decisão tão favorável aos israelitas.

Os livros de Esdras e de Neemias dão-nos um registro bastante completo dos primeiros anos que seguiram o fim do cativeiro. Neste registro aparecem os nomes de Esdras, de Neemias, de Zorobabel e de outros, dos quais Jeová se serviu para a reconstrução do templo e depois da cidade de Jerusalém e seus recintos que tinham sido destruídos quando a nação foi levada cativa a Babilônia.

Debaixo a liderança de Esdras e de Neemias, o povo foi consagrado de novo a Deus. A leitura da lei foi feita por Esdras (Neemias 8). O capítulo 10 de Neemias relata que a maioria do povo de Israel renovou o pacto solene, debaixo da direção de seus líderes. Este pacto até ultrapassava as exigências da lei, e certos estudantes da Bíblia crêem que foi um gosto antecipado dos escritos do Talmude, que, ainda hoje, exerce uma influência tão grande na vida de muitos israelitas.

Após as experiências relativas à reconstrução do templo, da cidade de Jerusalém e de seu recinto, a Bíblia não contém nenhuma informação concernente à nação, até o nascimento de Jesus. O livro apócrifo dos Macabeus relata os esforços heróicos da família dos Macabeus para combater aos assírios, opressores dos israelitas. Alguns reis foram estabelecidos em Jerusalém por um tempo, mas esta dinastia curta acabou-se com a conquista de Israel pelos romanos.

O NASCIMENTO DE JESUS

Durante séculos, até o nascimento de Jesus, a nação de Israel não gozou de nenhum favor divino especial; Malaquias foi o último dos profetas e serviu durante o tempo de Neemias. No entanto, numerosos foram os israelitas que continuaram interessando na Palavra e na lei de Jeová; e, quando João, o Batista começou seu ministério, lhe perguntaram se ele era o Messias prometido. (Lucas 3:15,16)

Podemos supor que os sacerdotes e doutores da lei conheciam a profecia de Daniel 9:25, na qual se menciona um período de sessenta e nove semanas simbólicas, marcando o tempo da chegada do Messias. Profeticamente, este período corresponde a 483 anos. Este começou com o decreto autorizando a reconstrução da cidade de Jerusalém e seu Templo, em 454 a.C. Se os líderes religiosos de Israel tivessem compreendido esta profecia, teriam sabido que viviam justamente ao tempo em que o Messias devia aparecer.

Um anjo de Jeová disse a Maria, que chegou a ser a mãe de Jesus: “Eis que conceberás e darás à luz um filho, ao qual porás o nome de JESUS. Este será grande e será chamado filho do Altíssimo; o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi seu pai; e reinará eternamente sobre a casa de Jacó, e o seu reino não terá fim.” (Lucas 1:31-33)

Se existia alguma dúvida com respeito à maneira na qual devem se cumprir as promessas divinas, relativas à perpetuação do trono de Davi, temos ali a resposta. Por outra parte, este anúncio feito a Maria pelo anjo confirma a veracidade desta profecia a respeito do nascimento de Jesus: “Porque a nós nos é nascido um menino, e a nós nos é dado um filho: o governo está sobre os seus ombros, e ele tem por nome Maravilhoso, Conselheiro, Poderoso Deus, Eterno Pai, Príncipe da Paz. Do aumento do seu governo e da paz não haverá fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e para o firmar com juízo e com justiça desde agora e para sempre. O zelo de Jeová dos exércitos cumprirá isto.” (Isaías 9:6,7 TB)

O MESSIAS—O UNGIDO

As palavras “Messias” e “Cristo” significam ungido. Jesus foi ungido no Jordão à idade de trinta anos, por João, o Batista. O costume de ungir aos reis e sacerdotes com óleo santo, praticado nos tempos do Antigo Testamento, era uma ilustração da unção pelo Espírito Santo. João, o Batista teve a demonstração disto no Jordão batizando a Jesus, o Espírito Santo ou o poder de Deus tendo vindo sobre Jesus.

Pouco tempo depois, Jesus foi à sinagoga de Nazaré, sua cidade natal. Alguém lhe deu o livro do profeta Isaías e o leu, do capítulo 61: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porquanto me ungiu para anunciar boas novas aos pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos, e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e para proclamar o ano aceitável do Senhor.” (Lucas 4:18,19; Isaías 61:1-3)

Jesus percorreu toda Palestina proclamando esta mensagem do Evangelho ou boas novas: as boas novas do reino, onde o governo prometido por Deus, o qual, por seus representantes, dará saúde aos doentes, acordará aos mortos e restabelecerá a paz e a segurança em Israel e em todas as nações. Seus doze apóstolos, e mais tarde, os setenta, chamados evangelistas, ajudaram-lhe neste ministério.

Durante mais de três anos eles trabalharam neste pequeno país da Palestina. sua mensagem das boas novas foi acompanhada por milagres: curas, ressurreições de mortos, em breve, todas as bênçãos que contribuirá à humanidade o reino messiânico. Este poder de fazer milagres, que possuíram Jesus e seus apóstolos, deveria ter sido um testemunho suficiente para convencer ao povo que Jesus era realmente o Messias da promessa.

Mas poucos foram os israelitas que aceitaram a Jesus como seu Messias. Os líderes religiosos, sobretudo estavam contrários a isso. João escreveu: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.” (João 1:11). Muitas vezes, Jesus foi obrigado a modificar seu plano de ação, para evitar aproximar-se aos israelitas que eram hostis para com ele. Perto do fim do seu ministério, quando Jesus compreendeu que tinha vindo o tempo previsto no plano divino onde devia morrer como Redentor do mundo, ele regressou ao distrito judaico, onde a oposição era a mais forte; e, nestes últimos dias, ele fez revelações notáveis. Por exemplo:

“Portanto, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas: e a uns deles matareis e crucificareis; e a outros os perseguireis de cidade em cidade; para que sobre vós caia todo o sangue justo, que foi derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até o sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que mataste entre o santuário e o altar. Em verdade vos digo que todas essas coisas hão de vir sobre esta geração. Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, apedrejas os que a ti são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e não o quiseste! Eis aí abandonada vos é a vossa casa. Pois eu vos declaro que desde agora de modo nenhum me vereis, até que digais: Bendito aquele que vem em nome do Senhor.” (Mateus 23:34-39)

As experiências feitas pela geração de Israel à qual Jesus pregou, demonstram que Jesus era um verdadeiro profeta. A profecia citada mais acima se cumpriu menos de quarenta anos depois, Jerusalém foi destruída, marcando o começo de sua dispersão, e o fim da sexta fase de sua história nacional relatada pela Bíblia. Esta fase iniciou-se no momento do regresso dos exilados de Babilônia, e acabou em 70-73 após Jesus Cristo, quando as mais severas e longas das calamidades nacionais os sobrevieram. Começando com a dispersão, a Bíblia continua descrevendo várias experiências deste povo eleito de Deus, não de uma forma histórica, senão profética, isto é, em forma de história escrita por antecipação.

Outro aspecto do plano divino para a redenção da raça humana e a libertação do pecado e da morte cumpriu-se nos últimos dias de Israel. Quando João escreveu com respeito aos que recusaram a Jesus, que “os seus não o receberam”, acrescentou: “Mas, a todos quantos o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.” (João 1:12). Hoje, a expressão “filhos de Deus utiliza-se de uma maneira vaga. Ainda que seja verdade que toda a raça humana é a criação de Deus e que Adão foi chamado na Bíblia “filho de Deus” (Lucas 3:38), esta denominação desapareceu com o pecado.

No entanto, João tinha outro pensamento, quando escreveu que alguns israelitas crentes tinham o privilégio de virem “filhos de Deus”. Segundo a Bíblia, os filhos ou os meninos de Deus são os indivíduos escolhidos para ser membros da casa reinante de Deus, sua família real. Paulo escreveu: “E, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo.” (Romanos 8:17)

Os israelitas que, individualmente, aceitaram a Jesus como o Messias prometido e chegaram a ser seus discípulos, foram os primeiros “filhos” destinados a se fazer co-herdeiros com ele. Os apóstolos faziam parte deste grupo. No dia do Pentecostes, três mil creram, e houve ainda muitos outros. Mas o número de israelitas crentes não foi suficiente. Apocalipse 7:4 e 14:1 revela-nos que a família reinante de Deus consta de cento e quarenta e quatro mil membros, que têm o nome de seu Pai escrito em sua fronte ou testa, e o número dos israelitas crentes era muito menos que isto.

Em Atos 15:14, lemos que “Simão relatou como primeiramente Deus visitou os gentios para tomar dentre eles um povo para o seu Nome”, a igreja primitiva já estava composta de israelitas crentes e de gentios convertidos.

“UMA NAÇÃO SANTA”

Pouco tempo após sua saída do Egito, Deus prometeu aos israelitas que seriam “reino de sacerdotes e nação santa” (Êxodo 19:5,6), a condição de que obedecessem a Deus e sua lei. Eles não cumpriram esta condição e, quando a nação fracassou na prova final, Jesus disse: “abandonada vos é a vossa casa.” (Mateus 23:38). A casa de Israel foi deixada abandonada, isto é, privada de toda reivindicação posterior com vistas de ser “reino de sacerdotes e nação santa”.

Jesus havia dito anteriormente: “Portanto eu vos digo que vos será tirado o reino de Deus, e será dado a um povo que dê os seus frutos.” (Mateus 21:43). O apóstolo Pedro identificou a esta nação, escrevendo: “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós que outrora nem éreis povo, e agora sois de Deus; vós que não tínheis alcançado misericórdia, e agora a tendes alcançado.” (1 Pedro 2:9,10).

Aqui a linguagem utilizada por Pedro é muito semelhante ao que foi utilizada na promessa de Deus aos israelitas. Ele diz que um povo que tinha sido alheio às promessas de Deus agora tinha chegado a ser o povo de Deus ao qual pertenciam estas promessas do reino. É, portanto, a nação mencionada por Jesus, à qual foi dado o reino tirado de Israel.


(A terceira parte deste artigo será publicada na edição de maio-junho de 2012 desta revista)

Nota: A tradução da Bíblia usada neste artigo foi a Versão Brasileira da Bíblia — TB Edição de 2011


Associação dos Estudantes da Bíblia Aurora