Quando Uma Pessoa Morre

Bem poucos dentre os milhões de seres humanos não pensam sobre o que acontecerá com eles quando morrerem. Alguns imaginam se há uma vida futura. Outros, que acreditam numa continuidade, imaginam se a próxima vida será cheia de felicidade ou de tristeza. Poucos encontraram uma resposta definitiva e satisfatória para a pergunta “Onde passarei a eternidade?”.

A questão sobre se nosso destino eterno é inalteradamente determinado no momento da morte também é de vital importância. Se isso for verdade, muitas perguntas surgem com relação à justiça e ao amor de Deus, visto que milhões que já morreram jamais tiveram uma oportunidade real de se arrependerem.

Muitas desses indivíduos, pelos padrões do mundo, são bons e nobres, porém não professam ser cristãos. São bons vizinhos, corretos nos tratos comerciais e estão sempre dispostos a estenderem a mão aos que passam necessidade. Ainda assim, de acordo com o conceito bíblico de cristianismo, não são bons o suficiente para irem para o céu quando morrerem. Por outro lado, essas pessoas são boas demais para se perderem para sempre, o que para alguns significa o tormento eterno.

Também, muitos dos que professam ser cristãos francamente admitem que nem sempre vivem do modo que deveriam viver, mas mesmo assim não são o tipo de pessoas más. Que dizer desses? Conta-se que certa pessoa sonhou que havia morrido e que se encontrava na presença do Juiz de todos. Ao ser perguntado sobre sua situação na igreja, ele não pôde responder com absoluta certeza. Além disso, ele havia gostado de estudar a Bíblia. Mas pelo visto, quando os ânimos se acirravam ele nem sempre controlava o linguajar como deveria e, no sonho, isso o impediria de entrar no céu. Segundo a história, ele acordou gritando: “Não me mande para o inferno!”.

É claro que isso é só uma história e, segundo as Escrituras, não está de acordo com o que realmente acontece quando alguém morre. Isso ilustra o fato de que muitos não têm certeza de uma vida futura. Além disso, milhões morreram sem jamais terem ouvido o nome de Jesus, o único nome dado debaixo do céu ou entre os homens pelo qual qualquer um pode ser salvo. O que vai acontecer com eles? É apropriado que tanto crentes quanto não-crentes reflitam bem sobre o assunto do que acontece após a morte, pois trata-se de algo que fatalmente teremos de encarar um dia. Uma hora a Morte com sua foice baterá na porta de cada um de nós.

Na presente consideração recorreremos diretamente à Bíblia. Será que existe alguma base bíblica para alguém ter medo de ir para o inferno ser eternamente torturado por demônios à prova de fogo? Veja o que descobrimos quando examinamos o registro inspirado:

No Velho Testamento (versão King James, em inglês) a palavra “inferno” aparece 31 vezes como tradução da palavra hebraica seol. Além dessas 31 vezes em que é vertida por “inferno”, ela também é traduzida 31 vezes como “sepultura” e três vezes como “abismo”. Fica claro, então, que a palavra hebraica seol também pode significar sepultura e abismo.

Os eruditos que traduziram a Versão Americana Padrão reconheceram esse fato. Teceram a seguinte crítica sobre o revisores ingleses no prefácio dessa Bíblia: “A substituição uniforme de seol por sepultura, abismo e inferno nos lugares em que esses termos foram omitidos pela revisão inglesa não carece de justificação. Das 65 ocorrências de seol no texto original, os revisores ingleses usam seol 29 vezes. Não se dá uma boa razão para tal discriminação. Se o termo sequer pode ser usado, fica claro que deveria ser de maneira uniforme.”

O primeiro servo de Deus a usar a palavra seol foi Jacó. Esse homem santo da antiguidade foi induzido a crer que seu amado filho José havia sido morto por uma fera do campo. Eram notícias avassaladoras. Quando Jacó as recebeu, declarou que continuaria a lamentar essa trágica perda até o fim de sua vida. Ele disse: “Porquanto com choro hei de descer ao meu filho até a sepultura [seol].” — Gên. 37:35

A palavra hebraica traduzida por sepultura que Jacó usou ao expressar seu lamento é seol — a única palavra traduzida por inferno no Velho Testamento. Ao usá-la Jacó deixou transparecer que tinha a expectativa de ir para o único inferno mencionado em todo o período abrangido pelo Velho Testamento. Além disso, Jacó indicou que compreendia que José já se encontrava nesse inferno e permaneceria lá, e que chegaria o tempo em que Jacó se juntaria a seu filho quando morresse.

Jacó foi um dos servos fiéis de Deus, bem como seu filho José. É inconcebível supor que quando morreram foram para um lugar de tortura tal como o inferno é frequentemente descrito. Iguais a muitas pessoas boas da atualidade, ambos eram inteiramente bons demais para serem mandados para um lugar de tormento. Não obstante, de acordo com o próprio testemunho de Jacó, ele esperava ir para o inferno quando morresse. Que tipo de inferno era o lugar para o qual Jacó esperava ir?

A ORAÇÃO DE JÓ

Em vez de supormos que já sabemos a resposta, vamos investigar o assunto com mais profundidade. O profeta Jó foi outro homem de Deus. A Bíblia diz que ele andou de modo “perfeito” perante Deus. (Jó 1:1) Esse homem era tão santo que diríamos que estaria qualificado para ir direto para o céu quando morresse. Não se trata de simplesmente ter sido bom o suficiente para escapar do tormento eterno no tradicional inferno de fogo. O registro indica que sua integridade era tamanha que normalmente imaginaríamos que ele era digno de ir direto para o céu e usufruir da companhia de Deus e dos anjos. Mas Jó não esperava ir para o céu!

Embora Jó fosse considerado um homem justo, Deus permitiu que muitas calamidades e sofrimentos lhe sobreviessem. Todos já ouvimos falar da paciência de Jó, demonstrada ao suportar tais experiências desafiadoras. (Tiago 5:11) Porém, em certa ocasião Jó achou que seria melhor morrer do que continuar a suportar a aflição causada pela doença e a má disposição de seus amigos e parentes, incluindo sua esposa. Consequentemente, pediu a Deus para morrer. De fato, implorou a Deus que o destruísse, ao orar: “Quem dera que me escondesses na sepultura, e me ocultasses até que a tua ira se fosse”.

A palavra hebraica usada por Jó e traduzida por “sepultura” na oração que acabamos de citar era seol, o inferno da Bíblia. De fato, a verdade é mais bizarra que a ficção! Estamos falando de um homem que já estava sofrendo indizível agonia tanto física quanto emocional. Os filhos haviam morrido. Seus rebanhos e manadas foram perdidos. A esposa havia se voltado contra ele e sua pele estava toda coberta com uma doença repugnante. Ele certamente não pediria a Deus para mandá-lo para um lugar onde seu sofrimento aumentaria e de onde não haveria esperança de sair! — Jó 14:13

Por que será que Jó orou para ir para o inferno? Porque esse servo inspirado por Deus sabia que o inferno é uma condição de quietude e descanso. Salomão, o homem mais sábio do Velho Testamento, e um dos escritores inspirados por Deus, declarou o seguinte a respeito do seol, ou inferno: “Não há obra nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma.” (Eclesiastes 9:10) Sem dúvida alguma, Jó conhecia esse fato e por isso orou a Deus pedindo que morresse e fosse para o inferno.

Jó estava cansado de sofrer. Ele sabia que na morte encontraria alívio para o sofrimento, e não a intensificação dele. Jó disse que na morte “os ímpios já não se agitam, e ali os cansados permanecem em repouso”, e, também, que os mortos “não ouvem mais os gritos do feitor de escravos”. (Jó 3:13-19) Fica claro que seu entendimento sobre o inferno era bem diferente do entendimento que muitos hoje em dia têm sobre esse assunto.

Esse registro inspirado ainda nos revela mais um ponto. Jó orou para ir para o inferno, mas ele não esperava ficar lá para sempre. Em sua oração expressou a crença de que posteriormente seria retirado de lá. “Quem dera que me escondesses na sepultura [seol, inferno]… até que a tua ira se fosse; e me pusesses um limite, e te lembrasses de mim! Chamar-me-ias, e eu te responderia, e terias afeto à obra de tuas mãos.” (Jó 14:13, 15, ACF) Jó queria permanecer no inferno da Bíblia somente até que a ira de Deus passasse, e depois ser chamado de volta à Terra. Jó tinha todos os motivos para ter essa esperança, pois está de acordo com a promessa que Jesus fez de que chegaria um tempo em que “todos os que estiverem nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão.” — João 5:28, 29

Segundo o modo em que o fiel e inspirado Jó encarava o assunto, a visão tradicional do inferno está errada em pelo menos três aspectos importantes: (1) Não é um lugar em que a ira de Deus sobrevenha ao pecador, mas uma condição em que tanto pecadores quanto santos escapam do sofrimento presente no mundo devido à ira de Deus. (2) É uma condição de inconsciência e, portanto, de descanso; não um lugar de sofrimento. (3) Os que vão para o inferno da Bíblia não permanecem lá para sempre como se costuma acreditar, mas terão a oportunidade de retornar a viver sobre a Terra, numa ocasião posterior.

O INFERNO SERÁ DESTRUÍDO

Outra promessa de Deus registrada no Velho Testamento e que revela uma importante verdade está registrada em Oseias 13:14. Nesse texto o SENHOR nos assegura que tem a intenção de destruir o inferno. “Eu mesmo os redimirei do poder do Sheol [sepultura, inferno]; eu os resgatarei da morte eterna! Onde estão, ó morte, os teus flagelos e castigos? Onde está, ó Sheol, [sepultura, inferno], o mundo dos mortos, onde está a tua destruição?” (BJKA)

O inferno, ou seol, é simplesmente a condição de estar morto e o Apóstolo Paulo nos diz que Cristo destruirá a morte. (1 Cor. 15:26) Isso confirma as palavras do profeta e nos assegura de que não é o propósito de Deus atormentar virtualmente quase toda a raça humana para sempre no inferno. De fato, não é o propósito de Deus atormentar ninguém. “Deus é amor”, diz a Bíblia, e nada nas Escrituras Sagradas indica que ele preparou um inferno de fogo e de enxofre para torturar suas criaturas humanas. (1 João 4:8, 16) Tal conceito representa erroneamente o bom nome do Criador do Universo.

INFERNO NO NOVO TESTAMENTO

As menções que o Novo Testamento faz sobre o inferno concordam com as contidas no Velho Testamento. O Novo Testamento foi originalmente escrito em grego, e emprega três palavras nesse idioma as quais são traduzidas por inferno em nossas Bíblias. Uma delas é tartaroo, com apenas uma ocorrência na Bíblia. A passagem em que aparece não fala sobre o estado da morte de seres humanos, de modo que não sairemos do assunto para examinar o significado dessa palavra. Há outras duas palavras gregas no Novo Testamento traduzidas por inferno em nossas Bíblias: uma delas é hades e a outra, geenna.

A palavra grega geenna refere-se ao antigo Vale de Hinom, que ficava bem do lado de fora de Jerusalém. As pessoas despejavam o lixo e os dejetos da cidade ali. Fogueiras eram mantidas constantemente acesas nesse vale, visto que servia como um incinerador. Portanto, o fogo do inferno do Novo Testemento é, na verdade, o fogo mantido aceso nesse vale para queimar o lixo.

Muitos se perguntam onde fica o inferno de fogo mencionado no Novo Testamento. A resposta é que ficava bem do lado de fora da cidade de Jerusalém. Naturalmente, tais fogueiras não estão mais lá, e Jesus sabia que eventualmente se apagariam. Jesus não queria que acreditássemos que todas as pessoas más da Terra seriam transportadas para Jerusalém quando morressem e fossem jogadas nas fogueiras do Vale de Hinom literal.

O Vale de Hinom, ou Geenna, não representa um lugar. É um símbolo de destruição. Sabemos disso porque Jesus disse aos seus discípulos: “Não tenham medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes, tenham medo daquele que pode destruir tanto a alma como o corpo no inferno [geenna].” — Mat. 10:28 (NVI)

HADES NO NOVO TESTAMENTO

Hades também é traduzida por “sepultura” em algumas ocorrências. Essa palavra grega possui o mesmo significado que a palavra hebraica seol, que é o estado, ou condição, de morte. Sabemos que hades (grego) é o mesmo que seol (hebraico) porque o apóstolo Pedro cita a profecia do Velho Testamento na qual a palavra seol aparece, e ele traduz seol pela palavra grega hades.

A citação de Pedro está em Atos 2:27, 31. A profecia mencionada por ele é a de Salmos 16:10, escrito por Davi. Nesse salmo o profeta prediz a morte de Jesus, dizendo que sua carne “repousaria em esperança” e indica que quando Jesus morresse, sua alma iria para o seol, o inferno do Velho Testamento. Pedro cita parte da profecia e a usa para provar que Jesus havia sido ressuscitado dos mortos, pois o profeta havia predito que a alma de Jesus não seria deixada no inferno.

Se o inferno fosse um lugar onde as almas de pessoas perversas são atormentadas para sempre, isso seria muito estranho. De acordo com o profeta Davi e o apóstolo Pedro, Jesus foi para o inferno quando morreu e foi livrado de lá no terceiro dia após sua morte. Em primeiro lugar, isso prova que tanto pessoas santas quanto pecadores vão para o inferno e, em segundo lugar, prova que os que vão para o inferno não permanecem necessariamente lá. Também prova que o inferno não é um lugar de tormento, pois é inconcebível que o Criador permitiria que seu santo Filho, Jesus, fosse atormentado pelo Diabo e seus anjos impuros — nem mesmo por três dias.

AS CHAVES DO INFERNO

Segundo a tradição, Satanás é quem supostamente possui as chaves do inferno. Mas isso também não é verdade. Em Apocalipse 1:18, Jesus, falando de sua morte e ressurreição, nos diz que ele tem as chaves da morte e do inferno. Isso é ao mesmo tempo interessante e consolador; pois sabemos que se Jesus possui as chaves do inferno então existe esperança para os que estão presos lá. O amoroso Jesus que, totalmente de graça, curou doentes, limpou leprosos, expulsou demônios e ressuscitou mortos, certamente um dia usará as chaves do inferno para abrir suas portas e libertar os que ali estão presos. Isso é, na verdade, exatamente o que a Bíblia diz que Jesus fará. Esse é o trabalho glorioso descrito na Bíblia como a “ressurreição dos mortos”. — Atos 24:15

Assim como o hades, ou inferno, é descrito como que simbolicamente possuindo chaves, Jesus se refere a ele como que também possuindo portas. Uma referência às “portas do inferno” pode ser encontrada em Mateus 16:18: “…edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.”

Então, em que sentido é impossível que as portas do inferno prevaleçam contra a igreja? Cada cristão, cada membro da verdadeira igreja de Jesus Cristo, será despertado do sono da morte no evento em que a Bíblia chama de “primeira ressurreição”. As portas do inferno não prevalecerão em mantê-los na condição de morte. O próprio Jesus foi levantado dos mortos, e através dele, o poder de Deus será usado para levantar da morte todos os seus verdadeiros seguidores, para que possam ‘reinar com Cristo durante mil anos’. — Rev. 20:4, 6

Contudo, haver uma primeira ressurreição indica que outra ocorrerá depois dessa. Durante o Reino de mil anos, o restante dos mortos serão ressuscitados na Terra. Essa promessa abençoada encontra-se em Apocalipse 20:12-14. Ali João diz-nos que na visão profética que recebeu, ele viu a morte e o inferno dando os mortos que neles havia.

Eles voltarão para ser ensinados, corrigidos e julgados — para fazerem reparações por todos os erros e transgressões intencionais. Não será um caminho fácil, pois “de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá.” (Gál. 6:7, NVI) Será um tempo de correção justa sob o férreo domínio do grande juiz, Cristo. Nenhum favoritismo será mostrado para com rico ou pobre, grande ou pequeno. Todos terão a oportunidade, quando humildemente corrigidos, de desfrutar a vida eterna aqui na Terra, livre de doença, dor e morte. (Ap. 21:1-4) Pois então, “a morte e o inferno [hades] foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte.” — Ap. 20:14 (Almeida Corrigida e Revisada Fiel)

Explicamos o testemunho geral da Bíblia no que se refere ao tema do inferno, e descobrimos que não temos autoridade da parte de Deus para acreditarmos que existe um inferno de tormento em qualquer lugar de seu grande Universo. Não há nenhum texto bíblico, tanto no Antigo Testamento quanto no Novo, que seja contrário aos que examinamos, quando devidamente compreendidos.*

* Veja “A Verdade Sobre o Inferno”, publicado pela Associação dos Estudantes da Bíblia Aurora. Cada texto da Bíblia em que ocorre a palavra inferno é ali examinado.

O INÍCIO DO ERRO

A origem desse ensino sobre tormento está na primeira, mais sombria, e maior mentira já contada a ouvidos humanos. Ela foi formulada pelo próprio Diabo e comunicada à mãe Eva através da serpente.

Deus havia dito aos nossos primeiros pais que se eles desobedecessem por comerem do fruto proibido, morreriam. Mas Satanás negou isso, ao dizer: “Certamente não morrereis.” — Gên. 3:4

A Bíblia indica que o Diabo conseguiu enganar praticamente o mundo inteiro. Quase todos acreditam na mentira dele, “certamente não morrereis”. Eles não pensam nisso com essas palavras, mas o mesmo ponto de vista errôneo é expresso em todas as várias teorias de não-morte tanto da parte de pagãos quanto de cristãos. Religiosos de toda a parte querem acreditar que quando morrerem não estarão realmente mortos. Não há morte.

Todos admitem que o corpo morre. É impossível negar esse fato. Mas a alegação é que dentro de nossos corpos se esconde uma entidade invisível a qual chamam de alma, e que a alma alegadamente sai do corpo quando ele morre e continua a viver em outro lugar. Afirma-se que a alma não pode morrer, que é indestrutível. Chamam-na, antibiblicamente, de alma imortal.

“Será que existe uma alma imortal?”, alguns talvez perguntem. Ao que respondemos: “Não!” Essa teoria é puramente uma invenção da sabedoria humana equivocada. A expressão “alma imortal” não aparece em nenhum lugar na Bíblia. O termo alma aparece na Bíblia, mas não descreve uma entidade invisível que habita dentro de nós e que pode existir depois que o corpo morre. Conforme usado na Bíblia o termo alma se aplica a todo o nosso ser e significa um ser vivo e dotado de sensibilidade.

Em Gênesis 2:7 (TB) a palavra alma aparece na Bíblia pela primeira vez e esse texto nos informa como Deus criou a alma e do que ela é feita. Diz ali: “Do pó da terra formou Deus JEOVÁ ao homem e soprou-lhe nas narinas o fôlego de vida; e o homem tornou-se um ser vivente [alma].” Observe que Deus não soprou uma alma imortal no homem, mas sim, como resultado da união do corpo e do fôlego de vida, o homem passou a ser uma alma.

Assim, quando o homem morre, a alma morre, pois o homem é a alma, ou ser vivo. Isso está de acordo com Ezequiel 18:4: “A alma que pecar, essa morrerá.” Adão, a primeira alma humana, pecou, e a pena de morte lhe sobreveio. Toda a sua posteridade também foram almas pecadoras; portanto, toda a raça humana tem morrido porque “o salário do pecado é a morte”. (Romanos 6:23) A morte, não o tormento, é a penalidade do pecado, e é essa pena que está sendo imposta a toda a raça humana. Cemitérios, cortejos fúnebres, doença e dor — tudo isso é evidência do fato de que o salário do pecado está sendo pago por uma raça morredoura.

O SONO DA MORTE

Ao longo das Escrituras, tanto no Antigo Testamento quanto no Novo, a morte é chamada de sono. Abraão, quando morreu, “foi congregado ao seu povo”. (Gênesis 25:8) O povo de Abraão era pagão, mas ainda assim o fiel Abraão dormiu com eles na morte. O Rei Davi também dormiu com seus pais. (1 Reis 2:10) Quando Lázaro, irmão de Marta e Maria, morreu, Jesus disse a seu respeito: “Nosso amigo Lázaro adormeceu.” (João 11:11, NVI) Quando Jesus despertou Lázaro do sono da morte, o relato diz que “aquele que estava morto saiu”. (João 11:44) A Bíblia não diz que aquele que estava no purgatório voltou, nem que aquele que estava em um lugar tormento voltou. A verdade simples é que Lázaro estava dormindo na morte — inconsciente, e quando foi acordado, aquele que estava morto saiu.

Temos registro bíblico de várias pessoas que foram despertadas do sono da morte, e nenhuma delas jamais disse uma palavra sobre estar no inferno ou purgatório. Obviamente, não poderiam descrever esses lugares pela simples razão de que nenhum desses lugares existe; e, além disso, estavam inconscientes na morte. Não tinham ido a lugar algum. Essas pessoas estavam mortas!

Quando alguém morre, “Sai-lhe o espírito, volta para a terra; naquele mesmo dia perecem os seus pensamentos.” — Sal. 146:4

Há esperança de vida após a morte — uma gloriosa esperança, não com base no erro de que não há morte, mas fundamentada na grande verdade de que Deus irá restaurar a vida aos mortos. Jó perguntou: “Morrendo o homem, porventura tornará a viver?” (Jó 14:14) Jó sabia que não devia perguntar: “Morrendo o homem, será que está realmente morto?” Jó sabia que aqueles que morrem deixam de existir para sempre a menos que Deus os restaure à vida. Esse é o ensino de toda a Palavra de Deus. Paulo confirma isso, ao dizer: “se não há ressurreição de mortos, nem Cristo foi ressuscitado… Também por conseguinte os que dormiram em Cristo, pereceram.” — 1 Cor. 15:13-18 (SBB)

Os mortos hão de ser restaurados à vida, conforme Jesus disse a Marta: “Quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; E todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá.” (João 11:25, 26) Jesus possui as chaves da morte. Ele as usará para abrir o grande cárcere da morte e livrar os que ali se encontram presos.

A NECESSIDADE DO SACRIFÍCIO DE JESUS

A raça humana pecadora teria permanecido morta para sempre se o amor de Deus não tivesse feito uma provisão para que a penalidade do pecado pudesse ser paga por outra pessoa. Essa provisão foi seu próprio filho amado, Jesus Cristo. É por isso que Jesus é chamado de Redentor. Ele é o único que resgatou o mundo “do poder da sepultura”. — Oseias 13:14

O Profeta Isaías disse a respeito de Jesus: “Ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.” (Isaías 53:5) Sobre Jesus, o apóstolo Paulo disse: ele “se deu a si mesmo em resgate por todos”. (1 Tim 2:6) Jesus disse a seus discípulos: “o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne”. (João 6:51) Todas essas declarações inspiradas da Palavra de Deus indicam que o primeiro requisito para qualquer membro da raça humana decaída obter salvação e paz com Deus é essa provisão que o Criador fez por meio da obra sacrificial do Redentor. O apóstolo Pedro declara que não há outro nome debaixo do céu ou entre os homens pelo qual devamos ser salvos. — Atos 4:12

A obra sacrificial de Cristo sozinha não fornece escape da morte. Além disso, é necessário que o indivíduo se arrependa do pecado e exerça fé no sangue expiatório de Cristo. Também é essencial lutar contra o pecado herdado e, tanto quanto possível, purificar-se de sua influência maculante.

PURIFICAÇÃO ANTES DA MORTE

Há muito dito na Bíblia sobre a purificação cristã do pecado. Mas, ao contrário da visão tradicional do purgatório, que afirma que os crentes passam pelo purgatório após a morte e, finalmente, entram na bem-aventurança e glória celestes, a Bíblia mostra que a purgação ou purificação do cristão ocorre antes da morte.

“Purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito”, escreveu o apóstolo. (2 Cor. 7:1) Espera-se que o cristão faça isso antes de morrer, e não depois. Jesus se comparou a uma videira e seus seguidores aos ramos dessa videira. (João 15:1-8) Daí ele disse que seu Pai Celestial limpava ou podava os ramos a fim de que eles possam produzir mais fruto. Aqui, novamente, é descrito um trabalho de purificação que se realiza no cristão antes da morte, não depois.

O apóstolo Pedro disse: “Amados, não se surpreendam com o fogo que surge entre vocês para os provar, como se algo estranho lhes estivesse acontecendo. Mas alegrem-se à medida que participam dos sofrimentos de Cristo.” (1 Pedro 4:12, 13, NVI) Aqui faz-se menção inconfundível de fogo em conexão com a experiência cristã, mas não se refere ao fogo literal que alegadamente atormentará algumas pessoas após a morte, e sim às experiências purificadoras que sobrevêm ao cristão nesta vida.

O apóstolo Paulo escreveu: “Pois o Senhor corrige ao que ama, e açoita a todo o que recebe por filho.” (Heb. 12:6) Não há nada nesse texto que indique que o açoite mencionado ocorre após a morte. Pelo contrário, o apóstolo está mostrando aos cristãos o que esperar nesta vida. Se amamos o SENHOR, e ele nos ama e está lidando conosco, temos de esperar ser açoitados ou disciplinados, a fim de que possamos aprender a sua vontade mais perfeitamente e sejamos treinados a realizá-la com mais fidelidade.

Algumas das experiências de purificação do cristão procedem do SENHOR, pois por meio de sua bondosa providência seu povo é devidamente treinado. Mas o cristão também deve participar desse processo por voluntariamente realizar parte da purificação. Paulo escreveu: “Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.” — 1 Cor. 9:27

Todas essas passagens da santa Palavra de Deus indicam sem dúvida que o trabalho de purificação precisa continuar na vida de cada seguidor do Mestre. As Escrituras também revelam que o grande objetivo desse trabalho de purificação é fazer com que os cristãos se desenvolvam à semelhança de seu Senhor. Paulo escreve que é a vontade de Deus que todos os que são chamados a ele devem se tornar cópias de seu amado Filho. (Rom. 8:28, 29) Há muitas promessas na Bíblia que indicam que aqueles que se arrependem de seus pecados, aceitam a Jesus como seu Redentor, e, depois, seguem fielmente os seus passos de sacrifício, esforçando-se para serem como ele, serão ressuscitados dos mortos, compartilharão de sua casa celestial e reinarão com Cristo durante mil anos para a bênção do restante do mundo da humanidade.

O REINO DE MIL ANOS

As purificações que acabamos de descrever envolvem apenas uma pequena minoria da raça humana. Jesus se referiu a essa minoria como um “pequeno rebanho”, e disse a respeito deles: “É do agrado do vosso Pai dar-vos o reino.” — Lucas 12:32

Já mencionamos anteriormente o reino de Cristo de mil anos. Agora aprendemos com Jesus que seus verdadeiros seguidores durante a presente época, ao passarem pelo período de purificação, estão sendo preparados, não apenas para desfrutar de um lar celestial com ele, mas também para trabalhar com ele para reabilitar o restante da raça humana. Juntos, eles restaurarão a humanidade a um paraíso mundial. Esse é o trabalho a ser realizado pelo Reino de Cristo. Tal empreendimento gigantesco, as Escrituras revelam, exigirá todo um milhar de anos para ser concluído.

Durante esses mil anos, a humanidade passará por suas experiências de purgação, ou purificação, da imperfeição causada pela queda de Adão. Esse período de mil anos, durante o qual Jesus e sua igreja estarão reinando sobre a Terra, também é descrito na Bíblia como um dia de julgamento. — 2 Pe. 3:8; Atos 17:31; Ap. 5:10

O trabalho de julgamento daquele dia envolverá um treinamento disciplinar, ou, como o profeta diz, o SENHOR “castigará nações poderosas e longínquas”. (Mq. 4:3) O profeta Isaías declara que ‘quando os juízos de Deus estão na terra os moradores do mundo aprendem justiça’. (Isaías 26:9) Jesus será o grande juiz daquele dia, e a respeito dele o profeta declara: “Mas julgará com justiça aos pobres, e repreenderá com equidade aos mansos da terra; e ferirá a terra com a vara de sua boca, e com o sopro dos seus lábios matará ao ímpio.” — Isa. 11:4

OS ADORMECIDOS DESPERTARÃO

As bênçãos da Idade do Reino estarão disponíveis para todos os que morreram bem como para os que estiverem vivos quando esse período começar. No caso dos que estiverem dormindo na morte, serão despertados para usufruir dessas bênçãos.

Nós nos referimos a alguns textos em Apocalipse que ensinam isso, mas outras passagens são igualmente claras sobre esse ponto. O Profeta Daniel escreveu: ‘… os que dormem no pó da terra ressuscitarão.’ — Dan. 12:2

Jesus disse que o tempo está chegando quando todos os que estão nos sepulcros ouvirão a voz do Filho do homem e sairão. E acrescentou: “os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida, e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo.” — João 5:28, 29, ARIB

Os que tiverem feito o bem são principalmente aqueles que têm seguido os passos de Jesus e que foram purgados ou purificados do pecado nesta vida. Na ressurreição, estes serão imediatamente levantados para a glória celestial, para reinarem com Cristo. Os que não tiverem feito o bem, e sim o mal, sairão para uma ressurreição de julgamento, ou seja, um processo corretivo do Reino de mil anos, concebido para restaurar a humanidade.

O despertar da morte será apenas a primeira etapa no caminho de retorno à perfeição humana. Outras medidas serão tomadas ao passo que forem aprovados nos testes de obediência que serão aplicados a todas as pessoas naquela época. Assim, a ressurreição deles, ou serem soerguidos à perfeição, será por julgamento, ou krisis (grego). À medida que forem aprovados em toda a purificação e experiências disciplinares que servirão de testes, ficarão cada vez mais perto de seu objetivo final, a perfeição total.

Tudo indica agora que o tempo para a bênção da humanidade — tanto os vivos quanto os mortos — está próximo. As profecias da Bíblia referentes ao fim do mau governo de Satanás estão sendo cumpridas. Isso, necessariamente, causa um grande tempo de tribulação em toda a Terra, mas em breve o poder governante do Reino de Cristo se manifestará, e as bênçãos de paz, alegria e vida começarão a fluir para o povo.

Essa é a gloriosa consumação do plano Divino de salvação, que é expressa nas bem conhecidas palavras da oração do Senhor: “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.” Continuemos, então, a oferecer essa oração inspirada, com fé, acreditando que sua resposta está próxima.



Associação dos Estudantes da Bíblia Aurora