VIDA E DOUTRINA CRISTÃ

A BUSCA PELO POVO DE DEUS — PARTE 7

O estabelecimento dos irmãos em Corinto

“E disse o Senhor em visão a Paulo: Não temas, mas fala, e não te cales; porque eu sou contigo, e ninguém lançará mão de ti para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade.” — Atos 18:9, 10

PAULO FOI forçado a sair apressadamente da Macedônia por causa da perseguição. Depois de partir, enviou uma mensagem aos seus dois companheiros de viagem, Silas e Timóteo, para que se juntassem a ele em Atenas, onde retomariam sua viagem juntos. Por causa das circunstâncias, ambos os irmãos estavam bem atrasados, e, quando Paulo não podia mais esperar, seguiu sozinho para Corinto. Pouco depois de chegar a essa cidade, ele começou a trabalhar na produção de tendas para garantir seu sustento por um tempo. Isso o levou a se familiarizar com outros fabricantes de tenda, Áquila e Priscila. Esse casal de judeus havia chegado a pouco tempo em Corinto, como resultado do decreto, promulgado pelo Imperador Cláudio, de que todos os judeus fossem expulsos de Roma. — Atos 18:1-3

Sem dúvida, essas circunstâncias foram dirigidas por Deus, que desejava que esses dois irmãos dedicados, por meio da associação com o apóstolo Paulo, conhecessem melhor o plano de Deus e entendessem seu chamado. Paulo foi convidado para morar na casa deles, onde ficou por quase dois anos. (vs. 11, 18) Lá, eles trabalharam juntos no ofício que tinham em comum e apreciaram a maravilhosa comunhão do Evangelho. É provável que Áquila e Priscila fossem os primeiros irmãos em Corinto a aprender sobre o plano de Deus e a serem batizados no corpo de Cristo.

Eles também foram de grande ajuda para Paulo em seu ministério. As Escrituras falam sobre a devoção e zelo deles pela verdade. Em sua carta aos romanos, Paulo escreveu: “Saudai a Priscila e a Áquila, meus cooperadores em Cristo Jesus, os quais pela minha vida expuseram as suas cabeças; o que não só eu lhes agradeço, mas também todas as igrejas dos gentios. Saudai também a igreja que está em sua casa. Saudai a Epêneto, meu amado, que é as primícias da Acaia em Cristo.” (Rom. 16:3-5) Essa saudação é uma homenagem apropriada ao caráter deles e uma evidência de que estavam prontos para entregar suas vidas para Paulo, seu irmão em Cristo. “Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.” (João 15:13) Esses primeiros cristãos foram severamente testados e deixaram um legado de seu amor fraternal em ação.

IRMÃOS FIÉIS

Esses amigos fiéis também foram citados por Paulo em sua última carta a Timóteo: “Saúda a Priscila e a Áquila.” (2 Tim. 4:19) Mais tarde, quando Paulo foi a Éfeso, ele ficou novamente com Áquila e Priscila, que, pelo visto, mudaram-se para a cidade de Corinto. Da casa deles, escreveu aos irmãos em Corinto dizendo: “As igrejas da Ásia vos saúdam. Saúdam-vos afetuosamente no Senhor Áquila e Priscila, com a igreja que está em sua casa.” (1 Cor. 16:19) A partir dessa menção, observamos que a casa de Áquila e Priscila era um dos lugares onde os irmãos realizavam reuniões. Eles serviram de diversos modos e com boa vontade. De fato, eram verdadeiros irmãos em Cristo.

Nunca é demais enfatizar a importância de tais irmãos. O trabalho feito por Deus durante esta Era do Evangelho não depende apenas dos ombros de indivíduos mais proeminentes. Essa lição é ressaltada no Maná Celestial Diário para 8 de março, que traz à nossa atenção o texto, “Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis.” — 1 Cor. 12:18

Os comentários sobre este texto dizem: “Nenhum membro do corpo de Cristo pode dizer que não precisa de outro membro, e nenhum membro pode dizer que não há nada que ele possa fazer para servir ao corpo. Sob a orientação de nossa gloriosa Cabeça, cada membro que está cheio de Seu Espírito e desejoso de servi-Lo, pode fazê-lo. Quando chegar o tempo para as recompensas, quem é que pode dizer se parte da utilidade de Paulo e Apolo foi graças ao trabalho de alguns dos irmãos humildes, como Áquila e Priscila? Pois, de várias maneiras eles ministraram, encorajaram e apoiaram seus irmãos mais fortes no trabalho do Senhor.” —Reimpressões, página 3152

PAULO VAI À SINAGOGA

Falando novamente sobre a chegada de Paulo em Corinto, lemos em Atos 18:4 a respeito do seu ministério inicial na sinagoga. Seu raciocínio sobre as Escrituras aparentemente era vigoroso, mas não controverso, e ele conseguiu persuadir os judeus e gentios que ouviram sua mensagem. Pelo visto, Paulo teve muito cuidado na apresentação do Evangelho de Cristo no início de sua obra em Corinto. As lembranças das experiências durante sua primeira viagem, quando os judeus radicais incitaram tumultos contra ele e o apedrejaram quase ao ponto de morrer, bem como suas experiências recentes em Tessalônica e Bereia, o fizeram ser mais moderado e cauteloso ao pregar a verdade.

Silas e Timóteo finalmente chegaram em Corinto com um bom relatório para Paulo. Os irmãos naquela região, particularmente em Tessalônica, sofreram perseguição severa nas mãos de judeus e gentios. No entanto, eles estavam recebendo bem essas experiências e cresciam na graça e no conhecimento. Paulo escreveu mais tarde a respeito do alívio que sentiu com esse relatório. “E enviamos Timóteo, nosso irmão, e ministro de Deus, e nosso cooperador no evangelho de Cristo, para vos confortar e vos exortar acerca da vossa fé; para que ninguém se comova por estas tribulações; porque vós mesmos sabeis que para isto fomos ordenados, pois, estando ainda convosco, vos predizíamos que havíamos de ser afligidos, como sucedeu, e vós o sabeis. Portanto, não podendo eu também esperar mais, mandei-o saber da vossa fé, temendo que o tentador vos tentasse, e o nosso trabalho viesse a ser inútil. Vindo, porém, agora Timóteo de vós para nós, e trazendo-nos boas novas da vossa fé e amor, e de como sempre tendes boa lembrança de nós, desejando muito ver-nos, como nós também a vós; por esta razão, irmãos, ficamos consolados acerca de vós, em toda a nossa aflição e necessidade, pela vossa fé.” — 1 Tes. 3:2-7

Esse relatório foi tão encorajador para Paulo que o inspirou a falar mais ousadamente aos judeus na sinagoga de Corinto sobre Jesus. O relato afirma: “E, quando Silas e Timóteo desceram da Macedônia, foi Paulo impulsionado no espírito, testificando aos judeus que Jesus era o Cristo.” (Atos 18:5) Essa mensagem mais direta teve um efeito imediato e esperado. Muitos judeus começaram a ridicularizar e a se opor a Paulo, falando coisas horríveis sobre ele. Paulo os denunciou veementemente e disse que não mais pregaria a eles, mas, que a partir de então, a mensagem dele seria para os gentios. — v. 6

No entanto, alguns já haviam aceitado a mensagem de Paulo sobre o Evangelho. Crispo, chefe da sinagoga e sua família estavam entre estes. Eles acreditavam que Jesus era Cristo, o Messias, e foram batizados. Paulo já não usava a sinagoga, mas aceitou a oferta de uma casa ao lado da sinagoga para realizar reuniões. Era o lar de um homem chamado Justo, um adorador sincero de Deus. Ali, Paulo continuou a pregar a todos os que ouvissem, e “muitos dos coríntios… creram” no Evangelho. — vs. 7, 8

PAULO É ENCORAJADO PELO SENHOR

Evidentemente, o constante abuso verbal e o risco de morte que Paulo, até aquele momento havia enfrentado em sua obra missionária estavam começando a afetar o apóstolo. Paulo precisava de encorajamento, e Deus manobrou providencialmente as circunstâncias para que isso acontecesse. Nosso texto introdutório mostra que o Senhor falou com Paulo por meio de uma visão durante a noite. Ele o encorajou a não ter medo, e a continuar pregando a mensagem. O Senhor assegurou ainda a Paulo que estaria com ele, e que nenhum mal lhe seria causado. O Senhor sabia que Paulo estava preocupado com o fato de que falar com coragem poderia resultar numa situação potencialmente perigosa. No entanto, Paulo recebeu a garantia de que, em Corinto, Deus anularia providencialmente a oposição. Sua pregação teria o efeito desejado, a busca pelo povo de Deus naquela cidade seria muito frutífera, resultando em muitos serem chamados para o corpo de Cristo.

Observamos que Deus foi fiel à sua promessa. Ninguém feriu Paulo durante a permanência em Corinto, embora sua pregação tenha continuado a fazer inimigos, especialmente entre os judeus. Com a intervenção providencial do Senhor, Paulo recebeu proteção por meio dos magistrados e governantes civis de Corinto. Ao continuar sua pregação, certos judeus, incluindo Sóstenes, o governante da sinagoga, decidiram que deveriam agir contra Paulo. Levaram-no perante Gálio, um oficial romano, e disseram: “Este persuade os homens a servir a Deus contra a lei.” (Atos 18:12, 13) Paulo estava pronto para se defender, mas para sua surpresa não foi necessário. Gálio falou aos judeus: “Se houvesse, ó judeus, algum agravo ou crime enorme, com razão vos sofreria, mas, se a questão é de palavras, e de nomes, e da lei que entre vós há, vede-o vós mesmos; porque eu não quero ser juiz dessas coisas.” (vs. 14, 15) Gálio deve ter se informado previamente a respeito dos judeus e de suas leis. Eles não o enganariam por fazê-lo acreditar que Paulo estava violando alguma lei civil. Assim, Gálio os mandou ir embora.

Geralmente, quando acusações desse tipo eram feitas contra Paulo, ele suportava o peso de uma surra ou de ser preso, por ser considerado uma causa de perturbação ou motim. No entanto, nessa ocasião, as coisas eram diferentes. Sóstenes, o governante da sinagoga, é que foi preso e espancado sumariamente, ao passo que ninguém tocou em Paulo. Deus de fato cumpriu sua promessa, e, nesse caso, permitiu que os acusadores e os agressores sofressem. — v. 17

Quando alguns adotam um proceder contrário à vontade de Deus, eles podem ser disciplinados por causa disso. Essas medidas são para ajudá-los a perceber o erro de suas escolhas. Sóstenes deve ter logo percebido que a proteção dada a Paulo pelos oficiais romanos foi dirigida por Deus. É bem possível que ele tenha conversado com Crispo, o ex-chefe da sinagoga que havia se convertido e sabia que Paulo tinha a garantia da proteção especial de Deus. Sóstenes, ponderando sobre essa experiência e, sem dúvida, recebendo a compaixão sincera de Paulo, pelo visto começou a participar das reuniões e logo se converteu. Vários anos depois, quando Paulo estava em Éfeso, ele mencionou Sóstenes ao escrever aos irmãos em Corinto. Em sua saudação introdutória lemos: “Paulo (chamado apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus), e o irmão Sóstenes.” (1 Cor. 1:1) Por volta dessa ocasião, esse querido irmão e amado membro da classe (congregação) em Corinto havia ido a Éfeso para ajudar Paulo na obra.

SATANÁS FRACASSA

Essa tentativa óbvia do adversário de interromper o trabalho de Paulo foi infrutífera. Além de ele ter sido protegido pela providência divina, a própria pessoa que o havia acusado se converteu e se tornou um ajudante na obra do Evangelho. Encorajado, Paulo continuou seus esforços de testemunho em Corinto, e nesse período ele também estabeleceu uma congregação em Cencreia, uma cidade portuária, ao leste. Não sabemos muito sobre os irmãos daquela cidade, exceto por uma irmã chamada Febe, que morava em Cencreia, mas depois viajou para Roma. Em sua epístola aos romanos, Paulo escreveu: “Recomendo-vos, pois, Febe, nossa irmã, a qual serve na igreja que está em Cencreia, para que a recebais no Senhor, como convém aos santos, e a ajudeis em qualquer coisa que de vós necessitar; porque tem hospedado a muitos, como também a mim mesmo.” — Rom. 16:1, 2

Algum tempo antes de sua breve permanência em Cencreia, Paulo, pelo visto, tinha feito um voto de nazireu. No entanto, enquanto estava em Cencreia, o período de seu voto chegou ao fim e, de acordo com a lei dos nazireus, ele raspou a cabeça. (Atos 18:18; Núm. 6:18-21) Não sabemos de forma conclusiva o motivo do voto, nem o tempo em que Paulo permaneceu sob ele. Podemos especular que tenha sido porque ele estava ciente dos perigos envolvidos na sua próxima viagem difícil e perigosa para Jerusalém, que seria feita quase toda pelo mar e cobriria uma distância de quase 1.600 quilômetros.

UMA BREVE PARADA EM ÉFESO

Por fim, Paulo deixou os irmãos dessas novas congregações em Corinto e Cencreia, e partiu de navio para a Síria. Áquila e Priscila navegaram com Paulo até Éfeso, um porto de escala ao longo do caminho. Paulo aproveitou a parada do navio em Éfeso para ir à sinagoga e raciocinar com os judeus. Eles queriam que ele permanecesse por mais tempo, mas não podia fazê-lo naquele momento. Ele “despediu-se”, mas prometeu-lhes: “Querendo Deus, outra vez voltarei a vós. E partiu de Éfeso.” (Atos 18:19-21) Paulo voltou a Éfeso em sua terceira viagem missionária e passou a maior parte dos três anos ali. — Atos 19:1, 8, 10

Quando Paulo estava completando essa segunda jornada e se preparando para a terceira, outro servo do Senhor, chamado Apolo, passou por Éfeso. Ele era judeu de Alexandria, bem versado nas Escrituras e um orador talentoso. Ele acreditava que Jesus era o Messias, e pregava essa mensagem com coragem nas sinagogas dos judeus. Ele era fervoroso em espírito e compreendeu que muitas Escrituras haviam se cumprido em Jesus. No entanto, seu conhecimento era incompleto, pois ele só conhecia o batismo de João. Quando foi à sinagoga em Éfeso e falou sobre Jesus ser o Messias, ele conheceu Áquila e Priscila, que haviam ficado morando em Éfeso após a partida de Paulo, e continuaram a expor a verdade conforme a oportunidade. Eles fizeram amizade com Apolo, e, em conversa particular, explicaram com mais detalhes o plano de Deus, especialmente o batismo de Cristo. — Atos 18:24-26

Depois de chegar a uma compreensão mais completa da doutrina do batismo, Apolo falou com Áquila e Priscila sobre seu desejo de ir a Corinto, na província de Acaia. Eles escreveram aos irmãos em Corinto exortando-os a recebê-lo, e assim fizeram. Apolo foi uma ajuda bem-vinda à congregação deles. Com seu talento para falar e entusiasmo pela verdade, ele ajudou a preencher o vazio deixado pela partida de Paulo. (vs. 27, 28) Mais uma vez, vemos como o Senhor, de modo amplo, forneceu diversos servos para que a busca por seu povo não fosse interrompida.

O TÉRMINO DA JORNADA DE PAULO

Enquanto isso, quando Paulo chegou a Cesareia, “subiu” a Jerusalém e “saudou a igreja” de lá. Então, saindo de Jerusalém, Paulo finalmente concluiu sua viagem, chegando em sua casa em Antioquia, na Síria. (Atos 18:22) Podemos ter certeza de que os irmãos ficaram felizes em vê-lo, pois fazia mais de três anos que ele havia saído de Antioquia com Silas, seu companheiro de viagem. Mais tarde, Timóteo juntou-se a eles em Derbe, Lucas, em Trôade, e Áquila e Priscila em Corinto. Agora, Paulo voltou sozinho. Timóteo e Silas ficaram em Corinto para ajudar os irmãos lá. Lucas estava em Filipos, e Áquila e Priscila permaneceram em Éfeso.

Não sabemos por quanto tempo Silas permaneceu em Corinto. Ele pode ter retornado a Jerusalém depois de um curto período de tempo, já que ele não foi mais mencionado como companheiro de viagem ou ajudante de Paulo. Silas, também chamado de Silvano, foi mais tarde mencionado pelo apóstolo Pedro e, aparentemente, tornou-se seu assistente até que Pedro terminou sua carreira terrestre. — 1 Ped. 5:12

Durante sua terceira jornada, Paulo escreveu aos irmãos em Corinto em duas ocasiões. Em sua segunda carta, escrita na Macedônia, recordou aos irmãos em Corinto sobre a pregação que ele, bem como Timóteo e Silas, fizeram naquela cidade. (2 Cor. 1:19) Esses três irmãos realizaram uma obra notável em Corinto. Deus os usou para buscar o povo para seu nome que Jeová sabia que estavam naquela cidade. Uma grande congregação de irmãos em Cristo foi firmemente estabelecida lá em resultado de seus esforços fiéis, corajosos e incansáveis na proclamação da mensagem do Evangelho.



Associação dos Estudantes da Bíblia Aurora