VIDA E DOUTRINA CRISTÃ

A BUSCA PELO POVO DE DEUS — PARTE 4

O Concílio de Jerusalém, e o começo da segund viagem

“O homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado.” — Gálatas 2:16, ARA

APÓS O RETORNO DE PAULO e Barnabé para a Antioquia, tendo completado com sucesso sua primeira viagem missionária, descobriram que havia agora um bom número de irmãos gentios na igreja, embora a maioria ainda fosse israelita. Uma grande concentração de irmãos judeus que viviam na Judeia continuavam a observar certas características da Lei Mosaica. Alguns deles foram a Antioquia e começaram a ensinar aos irmãos gentios que, se eles não fossem circuncidados de acordo com o costume de Moisés, eles não poderiam receber a salvação. — Atos 15:1

Paulo e Barnabé, anciãos da classe em Antioquia, discordaram dessa doutrina, o que resultou numa acirrada disputa. Os irmãos judeus estavam confiantes de que tinham razão. No entanto, Paulo e Barnabé mantiveram a convicção. Por fim, a igreja em Antioquia decidiu que a única maneira de resolver essa controvérsia era através de uma assembleia em Jerusalém com os apóstolos e os anciãos, aos quais enviaram Paulo e Barnabé como representantes de seu entendimento do assunto. (v. 2) Tito, um convertido grego que também estava em Antioquia naquela ocasião, foi com eles para a conferência. (Gál. 2:1-3) Ele seria útil, sem dúvida, como um exemplo da grande fé que haviam encontrado entre os gentios.

Paulo e Barnabé viajaram através da Fenícia e Samaria em seu caminho para Jerusalém, contando aos irmãos ali, que eram principalmente judeus, sobre o grande número de gentios que haviam entrado no corpo de Cristo. Essa notícia despertou grande interesse, e aparentemente, todos os que ouviram falar do seu trabalho se alegraram com os resultados. — Atos 15:3

A CONFERÊNCIA EM JERUSALÉM

Em Jerusalém, Paulo e Barnabé relataram esses mesmos acontecimentos à congregação e aos apóstolos. No entanto, a reação a essas notícias foi bem diferente. Alguns dos irmãos que haviam saído da seita dos fariseus insistiam que esses novos irmãos gentios fossem circuncidados e “guardassem a lei de Moisés”. Isso deu início a um longo e intenso debate, já que Paulo e Barnabé não concordavam com esse ponto de vista. O apóstolo Pedro então lembrou aos irmãos que ele havia sido escolhido por Deus vários anos antes para abrir o caminho para os gentios. De acordo com Paulo e Barnabé, Pedro afirmou que a exigência da circuncisão entre os discípulos gentios era o mesmo que tentar a Deus. Ele perguntou: “Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais puderam suportar, nem nós?” — Atos 15:4-10, ARA

Quando Paulo e Barnabé tiveram a oportunidade de falar, eles tentaram convencer a multidão de que os gentios eram verdadeiramente irmãos. Eles relataram que, durante sua viagem recente, testemunharam os “sinais e maravilhas que, por meio deles, Deus fizera entre os gentios” pelo poder do Espírito Santo. (v. 12) O apóstolo Tiago, atuando como presidente do concílio, então resumiu a discussão. Ele citou o Antigo Testamento, no qual Deus havia predito o tempo em que “todos os gentios sobre os quais tem sido invocado o meu nome” buscariam o Senhor. (vs. 13-17; Amós 9:11, 12) Tiago sugeriu que se pedisse aos irmãos gentios que observassem quatro itens da Lei e nada mais: “Que se abstenham de comida contaminada pelos ídolos, da imoralidade sexual, da carne de animais estrangulados e do sangue.” (Atos 15:20, NVI) Isso agradou os que estavam reunidos ali, e eles decidiram enviar Judas, o chamado Barsabás, e Silas, de volta a Antioquia com Paulo e Barnabé. Deveriam entregar, a todos os irmãos, uma carta dos apóstolos, anciãos e todos os reunidos em Jerusalém, reiterando as conclusões da conferência. Quando a carta foi lida para a igreja em Antioquia, todos os irmãos se alegraram. —vs. 22-32

Paulo escreveu sobre isso mais tarde em sua epístola aos Gálatas: “Catorze anos depois, subi novamente a Jerusalém, dessa vez com Barnabé, levando também Tito comigo. Fui para lá por causa de uma revelação e expus diante deles o evangelho que prego entre os gentios, fazendo-o, porém, em particular aos que pareciam mais influentes, para não correr ou ter corrido em vão. Mas nem mesmo Tito, que estava comigo, foi obrigado a circuncidar-se, apesar de ser grego. Essa questão foi levantada porque alguns falsos irmãos infiltraram-se em nosso meio para espionar a liberdade que temos em Cristo Jesus e nos reduzir à escravidão. Não nos submetemos a eles nem por um instante, para que a verdade do evangelho permanecesse com vocês… Pelo contrário, reconheceram que a mim havia sido confiada a pregação do evangelho aos incircuncisos, assim como a Pedro, aos circuncisos… Reconhecendo a graça que me fora concedida, Tiago, Pedro e João, tidos como colunas, estenderam a mão direita a mim e a Barnabé em sinal de comunhão. Eles concordaram em que devíamos nos dirigir aos gentios, e eles, aos circuncisos.” (Gál. 2:1-9, NVI) Como Paulo explica nesse relato, os apóstolos em Jerusalém concordaram que sua principal tarefa continuaria sendo com os irmãos que pertenciam ao Israel natural, os “circuncisos”, ao passo que Paulo e Barnabé trabalhariam com os gentios e com as congregações mistas de judeus e gentios.

PAULO CORRIGE PEDRO

Embora aparentemente o assunto tenha sido resolvido, alguns que vieram da seita dos fariseus continuaram a levantar essas questões. Estes não estavam dispostos a abrirem mão de sua devoção à Lei Mosaica. Mesmo Pedro, por algum tempo, foi afetado por esses fortes sentimentos. Logo após a conferência em Jerusalém, Pedro foi a Antioquia para uma visita. Lá ele misturou-se livremente com crentes judeus e gentios, até que certos irmãos judeus chegaram da Judeia. Conhecendo a posição firme que eles tinham sobre a Lei, Pedro se afastou dos irmãos gentios locais por medo de manchar sua reputação com os crentes judeus visitantes. Paulo sabia que isso estava errado, e ele confrontou Pedro sobre o assunto.

Continuando em sua carta aos irmãos da Galácia, Paulo descreve o incidente nestas palavras: “Quando, porém, Pedro veio a Antioquia, enfrentei-o face a face, por sua atitude condenável. Pois, antes de chegarem alguns da parte de Tiago, ele comia com os gentios. Quando, porém, eles chegaram, afastou-se e separou-se dos gentios, temendo os que eram da circuncisão. Os demais judeus também se uniram a ele nessa hipocrisia, de modo que até Barnabé se deixou levar. Quando vi que não estavam andando de acordo com a verdade do evangelho, declarei a Pedro, diante de todos: ‘Você é judeu, mas vive como gentio e não como judeu. Portanto, como pode obrigar gentios a viverem como judeus? … sabemos que ninguém é justificado pela prática da lei, mas mediante a fé em Jesus Cristo. Assim, nós também cremos em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pela prática da lei, porque pela prática da lei ninguém será justificado.’” — Gál. 2:11-16, NVI

Depois de um período de cerca de dois anos desde que Paulo e Barnabé retornaram de sua primeira viagem missionária, os pensamentos de Paulo voltaram-se para os irmãos gentios nas várias classes que estabeleceram. Ele estava preocupado com o fato de terem sido visitados por irmãos equivocados da Judeia que insistiam para que fossem circuncidados. Assim, ele sugeriu a Barnabé que voltassem a visitar esses irmãos “para ver como estão indo”. (Atos 15:36, NVI) Paulo, sem dúvida, também planejou levar a carta elaborada na conferência de Jerusalém para compartilhá-la com todos os irmãos que encontrassem.

PAULO E BARNABÉ DISCORDAM

Barnabé achou por bem seguir os passos de sua primeira viagem missionária, que havia começado na ilha de Chipre. Ele sugeriu que seu sobrinho, João Marcos, voltasse a viajar com eles, como na primeira viagem. No entanto, Paulo lembrou-se do fato de que Marcos os havia deixado depois de passar apenas a primeira parte da viagem, e, por isso, não queria levá-lo novamente. Houve uma discussão tão grande sobre o assunto que Paulo e Barnabé decidiram se separar. Barnabé tomou seu sobrinho e navegou por sua terra natal, Chipre, e Paulo, acompanhado de Silas, viajou por terra, para o norte, em direção à Síria, e depois para o oeste, para a Cilícia. — Atos 15:37-41

Antes de prosseguirmos com o relato, é importante deixar claro um assunto. Não devemos achar que a discordância entre Paulo e Barnabé criou um abismo entre os dois para o resto de suas vidas. Pelo contrário, Paulo amava Barnabé e escreveu sobre ele em suas cartas às diversas congregações como um exemplo de devoção fiel ao Senhor.

Uma menção a isso está no relato citado anteriormente, onde Paulo, vários anos depois, escreveu sobre a correção dada a Pedro na questão da associação com irmãos gentios. Paulo indica sua sincera preocupação com Barnabé, ao mencionar que ele havia tropeçado pelas ações de Pedro. (Gál. 2:13) Certamente, sua preocupação foi motivada por um grande amor por Barnabé, apesar de seu desacordo anterior em relação a João Marcos.

Paulo fez menção de Barnabé novamente vários anos depois em sua primeira epístola aos irmãos em Corinto. Nessa carta, Paulo disse aos irmãos que, como apóstolos, tinham certos direitos e privilégios: “Ou”, pergunta retoricamente, “será que apenas eu e Barnabé não temos o direito de deixar de trabalhar para termos sustento?” (1 Cor. 9:6, NVI) Sua inclusão de Barnabé indica que ele ainda estava servindo fielmente ao Senhor, e Paulo tinha um respeito amoroso por seu serviço.

A Bíblia também tem o cuidado de registrar que em anos posteriores, Paulo teve o forte apoio de João Marcos como ajuda no ministério. Enquanto Paulo era prisioneiro em Roma, ele escreveu aos irmãos em Colossos, indicando que Marcos estava com ele naquele momento. Ele concluiu sua carta dizendo: “Marcos, primo de Barnabé. Vocês receberam instruções a respeito de Marcos, e se ele for visitá-los, recebam-no. Jesus, chamado Justo, também envia saudações. Estes são os únicos da circuncisão que são meus cooperadores em favor do Reino de Deus. Eles têm sido uma fonte de ânimo para mim.” — Col. 4:10, 11, NVI

Muitas vezes, quando ocorre um problema ou diferença entre irmãos, aqueles que ouvem falar da dificuldade tendem a tomar partido, tornando as coisas mais difíceis. É possível que muitos que apoiaram Paulo na controvérsia original pudessem ter guardado sentimentos negativos sobre João Marcos. No entanto, Paulo enfatizou seus sentimentos calorosos em relação a Marcos e, como observado no versículo anterior, instruiu os irmãos a recebê-lo, caso os visitasse. Marcos, aparentemente, saiu de Roma, talvez viajando para ver irmãos a quem Paulo o instruiu a visitar — incapaz de fazê-lo por causa de sua prisão. O fato de Marcos ter saído de Roma por um tempo é evidenciado na carta final de Paulo, ao escrever para Timóteo: “Só Lucas está comigo. Traga Marcos com você, porque ele me é útil para o ministério.” (2 Tim. 4:11, NVI) A Bíblia não diz se Paulo viu Marcos novamente antes de morrer, mas é claro que ele amava muito a Marcos e o considerava de grande ajuda na obra.

INÍCIO DA SEGUNDA VIAGEM

A segunda viagem de Paulo, com Silas o acompanhando, começou com uma visita às igrejas na Síria e na Cilícia onde, sem dúvida, eles compartilharam a carta que eles trouxeram da conferência de Jerusalém. Continuando para o oeste em direção a Listra e Derbe, eles foram até onde Timóteo morava. (Atos 16:1, NVI) Ao chegarem na casa de Loide e Eunice, a avó e a mãe de Timóteo, Paulo descobriu que o jovem Timóteo havia amadurecido e era muito ativo nas congregações de Derbe, Listra e Icônio. — v. 2

Os irmãos dessas congregações elogiaram tanto a Timóteo que Paulo decidiu levá-lo com eles em suas viagens. No entanto, Timóteo foi primeiro circuncidado. (v. 3) Sua mãe era uma crente judia, mas seu pai era grego. Essa ação de Paulo pode parecer estranha em vista dos recentes acontecimentos em Jerusalém, onde haviam chegado ao acordo de que os gentios crentes não precisariam ser circuncidados. No entanto, devemos ter em mente que Paulo sempre ia primeiro às sinagogas para apresentar a mensagem do Evangelho. Se Timóteo não fosse circuncidado, Paulo seria impedido de lidar livremente com os judeus.

Depois de ser circuncidado, Timóteo juntou-se a Paulo e Silas enquanto continuavam a jornada para entregar a carta dos apóstolos às várias igrejas da Ásia Menor que Paulo já havia visitado. As congregações que visitaram se beneficiaram muito das notícias trazidas de seu ministério. “Assim as igrejas eram fortalecidas na fé e cresciam em número cada dia.” — vs. 4, 5

A DIREÇÃO DO ESPÍRITO SANTO

A natureza especial do trabalho de selecionar um povo para o nome de Deus é destacada nos eventos que se seguiram. Paulo procurou alcançar outros potenciais irmãos na Ásia, nas regiões da Galácia e da Frígia, mas, de alguma forma, Deus indicou pelo seu Espírito Santo que não deveria fazê-lo. A simples afirmação das Escrituras é que foram “impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na província da Ásia.” (Atos 16:6, NVI) Da mesma forma, quando eles consideraram entrar em uma região ao norte chamada de Bitínia, eles foram novamente instruídos pelo Espírito Santo para não ir. O relato afirma: “Quando chegaram à fronteira da Mísia, tentaram entrar na Bitínia, mas o Espírito de Jesus os impediu.” — v. 7

Quando consideramos esses simples relatos, é importante reconhecermos que a mensagem do Evangelho não deveria ser pregada indiscriminadamente em todos os lugares para encontrar conversos. Em vez disso, observamos que o trabalho estava sendo cuidadosamente dirigido por Deus e seu filho, Cristo Jesus. Embora Paulo no momento não soubesse, havia uma urgência para ele ir mais para o oeste, para a Macedônia. Isso foi revelado a ele apenas quando chegaram à região oeste da Ásia Menor, à cidade portuária de Trôade. Ali, Paulo recebeu a visão de um “homem da Macedônia” pedindo-lhe: “Venha… e nos ajude.” — vs. 8, 9, NTLH

Não devemos concluir que não havia nenhum povo de Deus nas outras áreas da Galácia, da Frígia e da Bitínia, e que, portanto, Deus os ignorou. Mais tarde Paulo foi a esses lugares. (Atos 18:23) No entanto, nessa viagem, era necessário que ele ajudasse aqueles que seriam preparados por Deus para receber o convite de se tornarem membros do corpo de Cristo. Pela primeira vez, e pela direção do Espírito Santo, a busca pelo povo de Deus agora entraria no continente europeu.



Associação dos Estudantes da Bíblia Aurora