VIDA E DOUTRINA CRISTÃ

A BUSCA PELO POVO DE DEUS — PARTE 3

Barnabé e Saulo são enviados

“‘Separem-me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado.’ Assim, depois de jejuar e orar, impuseram-lhes as mãos e os enviaram.” — Atos 13:2, 3 NVI

NÃO MUITO tempo após Barnabé e Saulo regressarem de Jerusalém a Antioquia, Deus, através do poder do Espírito Santo, deu indicação de que deveriam começar a difundir a mensagem do Evangelho em outras regiões. Ansiosos para cooperar, a igreja os enviou alegremente ao trabalho de plantar as sementes da verdade em países distantes. Acompanhados por João Marcos, eles navegaram para a ilha de Chipre, chegando primeiro ao porto de Salamina. Pela lógica, Chipre era um bom lugar para começar seu trabalho, pois era a terra natal de Barnabé. Eles começaram pregando na sinagoga dos judeus. Essa foi a rotina das atividades de Barnabé e Saulo em todos os lugares que visitaram, embora sua missão fosse também para os gentios. — Atos 4:36; 13:4, 5; Gál. 2:7

Quando chamou Saulo, o Senhor disse: “Vai, porque este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel.” (Atos 9:15, ARC) Antes de Saulo pregar para os gentios, ele visitou as sinagogas para tentar convencer seus irmãos judeus de que Jesus era o Messias. Mais tarde ele escreveu: “Em Cristo digo a verdade, não minto (dando-me testemunho a minha consciência no Espírito Santo): tenho grande tristeza e contínua dor no meu coração. Porque eu mesmo poderia desejar ser separado de Cristo, por amor de meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne; que são israelitas, dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e os concertos, e a lei, e o culto, e as promessas; dos quais são os pais, e dos quais é Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos.” — Rom.9:1-5, ARC

Pode parecer, nesses versículos, que Paulo estaria disposto a trocar de lugar com seus irmãos judeus e ser amaldiçoado, perdendo o favor de Deus. No entanto, o modo como a Emphatic Diaglott, em inglês, traduz o versículo 3, esclarece isso: “Por causa de meus irmãos, meus parentes segundo a carne; (pois, até mesmo eu, no passado, desejava ser amaldiçoado pelo Ungido)”. Esse fraseado sugere que Paulo estava fazendo uma alusão à sua condição anterior de zelo no judaísmo, quando sua atitude era a de querer ser amaldiçoado por Cristo — os mesmos sentimentos que ele agora observava em muitos de seus compatriotas.

A INCREDULIDADE DE ISRAEL SERIA TEMPORÁRIA

Paulo sabia que as profecias previram a incredulidade de seu povo e que Deus não acharia, entre os judeus, um número suficiente para o corpo de Cristo. No entanto, ele tinha um forte desejo de que eles fossem salvos. Isso fez com que escrevesse: “Irmãos, o desejo do meu coração e a minha oração a Deus pelos israelitas é que eles sejam salvos.” E, novamente, escreveu: “Eu estou falando a vocês, gentios. Visto que sou apóstolo para os gentios, exalto o meu ministério, na esperança de que de alguma forma possa provocar ciúme em meu próprio povo e salvar alguns deles.” — Rom. 10:1; 11:13, 14

Paulo percebeu que a incredulidade de Israel, como nação, só acabaria depois que seu exaltado Messias retornasse em seu Segundo Advento. Assim, ele poderia dizer: “Irmãos, não quero que ignorem este mistério, para que não se tornem presunçosos: Israel experimentou um endurecimento em parte, até que chegasse a plenitude dos gentios. E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: ‘Virá de Sião o redentor que desviará de Jacó a impiedade.’” — Rom. 11:25, 26

TRABALHO EM CHIPRE

Não temos registro de nenhum êxito que Saulo e Barnabé tenham alcançado entre os judeus em Chipre, mas sabemos de, pelo menos, um gentio que exerceu fé. Ocorreu em resultado de uma tentativa aberta do Adversário de interromper as atividades dos apóstolos. Isso foi feito por meio de um feiticeiro judeu chamado Barjesus, que tentou convencer o procônsul local de não ouvir Barnabé e Saulo. Notamos que foi nesse momento da vida de Saulo que a Bíblia indica que ele mudou de nome para Paulo. Apropriadamente, Paulo, dotado da autoridade apostólica de Deus, confrontou o perverso feiticeiro, “pôs os olhos nele” e chamou-o de “filho do Diabo”. Ele disse também que o Senhor o deixaria temporariamente cego, “E imediatamente caiu sobre ele uma névoa e uma escuridão.” — Atos 13:6-11

Sérgio Paulo, o procônsul gentio de Chipre, ficou tão impressionado com o poder de Paulo e sua mensagem, que se tornou crente. (v. 12) Ninguém mais é mencionado por nome nesse relato da estada de Paulo e Barnabé em Chipre. Mais tarde, um dos que se tornaram ajudantes de Paulo foi Tito. Ele não é mencionado no livro de Atos, mas sabemos pelas cartas de Paulo que Tito o acompanhou quando mais tarde foi para Jerusalém, para que os irmãos judeus pudessem ver um bom exemplo dos gentios que agora estavam no corpo de Cristo. (Gál. 2:1, 2) No final do ministério de Paulo, Tito foi enviado para a ilha de Creta para ajudar os irmãos, e permaneceu ali por muitos anos como ancião na congregação. A família e o local de nascimento de Tito não é conhecido, mas uma das especulações é que ele possa ter vindo de uma das ilhas do Mediterrâneo — Chipre ou Creta.

EM ANTIOQUIA DA PISÍDIA

Quando Paulo e Barnabé concluíram a obra em Chipre, navegaram para a Ásia Menor continental, até uma cidade na Pisídia chamada de Antioquia. Ali, João Marcos os deixou, retornando a Jerusalém, enquanto Paulo e Barnabé seguiram com a obra missionária. Em Antioquia, eles foram à sinagoga no sábado, onde foram convidados pelos líderes a falar. (Atos 13:13-15) Paulo imediatamente se levantou e proferiu um discurso maravilhoso que está registrado nos versículos 16-41. Sua apresentação foi tão impressionante que muitos dos judeus e prosélitos convidaram-no para retornar no sábado seguinte e falar novamente. — vs. 42, 43

No sábado seguinte, quase toda a cidade se reuniu para ouvir, tanto judeus quanto gentios. (v.44) Isso despertou muita inveja em alguns judeus que então blasfemaram e se opuseram às palavras de Paulo. Percebendo que as coisas estavam saindo do controle, Paulo e Barnabé deixaram a sinagoga com estas palavras: “Era necessário anunciar primeiro a vocês a palavra de Deus; uma vez que a rejeitam e não se julgam dignos da vida eterna, agora nos voltamos para os gentios.” (v. 46) Então eles citaram uma profecia do Antigo Testamento, aplicando-a à situação que os confrontava: “É coisa pequena demais para você ser meu servo para restaurar as tribos de Jacó e trazer de volta aqueles de Israel que eu guardei. Também farei de você uma luz para os gentios, para que você leve a minha salvação até aos confins da terra.” — Isa. 49:6

O versículo 8 dessa mesma profecia diz: “Assim diz o Senhor: ‘No tempo favorável eu lhe responderei, e no dia da salvação eu o ajudarei; eu o guardarei e farei que você seja uma aliança para o povo, para restaurar a terra e distribuir suas propriedades abandonadas.’” Essas palavras estabelecem que agora, durante a Era do Evangelho, é o “tempo favorável” ou, aceitável, para a obra de encontrar um povo para o nome de Deus. Quando este especial “dia da salvação” terminar, Deus colocará o mundo inteiro em uma relação pactuada com Ele, debaixo do Novo Pacto. Aqueles a quem Deus procura durante a presente era servem aos interesses daquele Novo Pacto, preparando-se para o trabalho futuro de sua gloriosa administração.

Os gentios que ouviram Paulo agora perceberam que sua mensagem não estava mais restrita à sinagoga. Em vez disso, “todos os corretamente dispostos para com a vida eterna tornaram-se crentes” e a “palavra do Senhor se espalhava por toda a região”. (Atos 13:48, TNM; 49, NVI) Essas expressões confirmam a natureza seletiva da presente chamada da Era do Evangelho, que começou a ser feita por volta daquela época. Os gentios que creram nas palavras de Paulo alegraram-se com elas. Esse ministério em Antioquia continuou por um tempo, possivelmente várias semanas. No entanto, judeus opositores, por fim, convenceram as autoridades a expulsarem Paulo e Barnabé da região, mas não antes de muitos novos discípulos terem sido firmados no conhecimento da verdade, e recebido evidências do Espírito Santo entre eles. — vs. 50-52

SEGUINDO PARA ICÔNIO, LISTRA E DERBE

Paulo e Barnabé viajaram para o leste, para Icônio, e, como de costume, visitaram a sinagoga primeiro. Ocorreram eventos semelhantes aos anteriores, e um bom número, tanto de judeus quanto de gentios, creram. Contudo, a oposição foi feita novamente por judeus incrédulos, que também instigaram certos gentios, até que toda a cidade ficou dividida — de um lado os que apoiavam os apóstolos e, do outro, os opositores. No final, os judeus prevaleceram, causando severa perseguição. Por causa de uma conspiração para apedrejá-los, Paulo e Barnabé foram obrigados a fugir, mas isso só depois de um longo período dedicado a pregar a Palavra e a ajudar os discípulos a se estabelecerem na fé. — Atos 14:1-5

Os dois viajantes então fugiram para a província de Licaônia, onde pregaram nas cidades de Listra e Derbe. Enquanto estavam em Listra, ocorreu um estranho incidente. Um homem que era aleijado desde o nascimento, e nunca havia andado, foi curado por Paulo por causa de sua fé. As pessoas que testemunharam esse milagre ficaram tão maravilhadas com isso que começaram a acreditar que Barnabé era Júpiter e Paulo, Mercúrio — deuses que os havia visitado na forma humana. À medida que a agitação crescia, o “sacerdote local de Júpiter” começou a fazer arranjos para oferecer a eles um sacrifício como se fossem deuses. Paulo e Barnabé tiveram dificuldade para impedir aqueles rituais e convencer as pessoas de que eram apenas homens comuns. Eles rasgaram seus mantos e falaram à multidão, explicando-lhes sobre o verdadeiro Deus que fez o céu e a Terra, e finalmente impediu as multidões de oferecerem seus sacrifícios. — vs. 6-18

No entanto, a popularidade dos apóstolos em Listra foi de curta duração. Os judeus de Antioquia e Icônio uniram forças e os seguiram até Listra. Convenceram o povo de que Paulo e Barnabé eram impostores, e, ao encontrarem Paulo, começaram a apedrejá-lo. A Bíblia não dá detalhes sobre esse incidente. No entanto, podemos imaginar que Paulo, ao ser atingido pelas pedras, recordou-se de Estêvão, antes de ficar inconsciente. Ele foi então arrastado para fora das muralhas da cidade e abandonado como se estivesse morto. Um triste grupo de discípulos se reuniu em torno de seu amado instrutor, supondo que havia falecido. Milagrosamente, porém, Paulo recuperou a consciência e, levantando-se, voltou com os discípulos para uma de suas casas. Lá ele parcialmente recuperou sua força, enquanto os discípulos planejavam como poderiam levá-lo rapidamente para um local mais seguro. No dia seguinte, Barnabé e talvez alguns outros, levaram-no para a cidade vizinha de Derbe. (vs.19, 20) Embora o relato não forneça quaisquer detalhes, foi possivelmente lá que Paulo passou um período recuperando-se de seus ferimentos. Isso pode ter acontecido no lar da família de Timóteo, que residia em Derbe, e de quem Paulo fala de modo tão louvável em escritos posteriores. — Atos 16:1, 2; 20:4

APREÇO PELA FAMÍLIA DE TIMÓTEO

Muitos anos depois, uma das cartas escritas por Paulo perto do fim de sua vida de serviço ao Senhor, foi a Segunda Carta a Timóteo. Paulo inicia com uma bela saudação e expressa seu apreço por Timóteo e seu exemplo de fidelidade. Visto que Paulo o considerava como um filho, o apóstolo foi inspirado a escrever: “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, segundo a promessa da vida que está em Cristo Jesus, a Timóteo, meu amado filho: Graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor. Dou graças a Deus, a quem sirvo com a consciência limpa, como o serviram os meus antepassados, ao lembrar-me constantemente de você noite e dia em minhas orações. Lembro-me das suas lágrimas e desejo muito vê-lo, para que a minha alegria seja completa. Recordo-me da sua fé não fingida, que primeiro habitou em sua avó Loide e em sua mãe Eunice, e estou convencido de que também habita em você.” — 2 Tim. 1:1-5

É nessa carta que aprendemos que Paulo tinha um grande respeito pela mãe e pela avó de Timóteo, ambas irmãs consagradas em Cristo, e também aprendemos sobre seu amor pelo fiel Timóteo. Nessa epístola, ele também lembra as experiências dolorosas que inicialmente o havia levado à casa deles: “Mas você tem seguido de perto o meu ensino, a minha conduta, o meu propósito, a minha fé, a minha paciência, o meu amor, a minha perseverança, as perseguições e os sofrimentos que enfrentei, coisas que me aconteceram em Antioquia, Icônio e Listra. Quanta perseguição suportei! Mas, de todas essas coisas o Senhor me livrou! De fato, todos os que desejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos.” (2 Timóteo 3:10-12) Na época da primeira visita do apóstolo, Timóteo possivelmente era um adolescente e, sem dúvida, muito ciente das experiências de Paulo, talvez até tendo ajudado a cuidar de suas feridas, em sua casa.

ADVERSÁRIO IMPEDIDO

Vemos o quanto o adversário continuamente tentou, mas não conseguiu, impedir a obra de encontrar o povo de Deus. Se Paulo tivesse sido morto em Listra, os esforços de dar testemunho na Ásia Menor poderiam ter sofrido um grande retrocesso. Barnabé foi poupado dessa experiência de apedrejamento. É possível que, por ser um homem mais velho, sua recuperação teria sido mais difícil, ao passo que a relativa juventude e vigor de Paulo o ajudaram a se recuperar rapidamente. Assim, mesmo nesses detalhes, vemos a mão providencial de Deus.

Quando Paulo foi chamado pela primeira vez, o Senhor lhe disse por meio de Ananias: “Vou mostrar-lhe quantas coisas ele deve sofrer por causa do meu nome.” (Atos 9:16) Certamente, ele estava aprendendo que aqueles que “vivem piedosamente em Cristo Jesus” devem sofrer perseguição, e que não apenas ele sofreria, mas todos os irmãos também experimentariam sofrimento, para que pudessem aprender essa mesma lição. Os que haviam tentado matar Paulo devem ter continuado a perseguir também os irmãos nessas mesmas cidades. Mais tarde, ao voltar para ver esses cristãos, uma das principais lições ensinadas pelo apóstolo foi que todos os consagrados “devem, através de muita tribulação, entrar no reino de Deus”. — Atos 14:22

Poderíamos supor que tal experiência, que quase lhe custou a vida, convenceria Paulo a evitar cidades onde havia oposição muito severa à obra do Senhor. No entanto, ele não podia permitir que esses novos irmãos lutassem sozinhos quando precisassem de ajuda. Embora em cada uma dessas visitas ele e Barnabé fossem obrigados a sair apressadamente por causa da perseguição, o amor de Paulo pelos irmãos cresceu ao passo que testemunhava sua consagração e devoção a Deus.

RETOMANDO OS PASSOS

Paulo talvez tenha originalmente pensado em visitar sua cidade natal de Tarso, que não ficava muito distante ao leste de Derbe. No entanto, ele não fez isso nessa jornada. O incidente do apedrejamento o havia enfraquecido fisicamente. Para Paulo, no entanto, o mais importante era que o sucesso em encontrar tantos irmãos interessados exigia que mais atenção fosse dada às necessidades deles. Assim, depois de ficar algum tempo em Derbe e encontrar muitos discípulos, Barnabé e ele começaram a voltar, retornando para Listra, Icônio e Antioquia, confirmando a verdade aos irmãos, exortando-os a continuar na fé e encorajando-os a suportar as perseguições que eles enfrentariam. — Atos 14: 21, 22

Um de seus objetivos em revisitar essas classes era assegurar que elas fossem organizadas corretamente de acordo com as instruções das qualificações de anciãos e diáconos, que Paulo estabeleceu mais tarde em 1 Timóteo 3:1-13. O relato de Atos 14:23 pode dar a entender que Paulo e Barnabé fizeram a escolha dos anciãos através de uma cerimônia de ordenação. No entanto, a palavra grega traduzida em muitas Bíblias como “designado” ou “instituído” nesse versículo significa, na realidade, “votar estendendo a mão”. (Thayer’s Greek Definitions, em inglês) Esse procedimento é o mesmo usado hoje pelas eclésias do Senhor, ao votar para eleger anciãos e diáconos, exatamente como Paulo e Barnabé estabeleceram.

Depois de cuidarem da eleição dos anciãos e diáconos, Paulo e Barnabé oraram com os irmãos em cada eclésia e os recomendaram ao Senhor ao partir. Em seu regresso, eles “pregaram a palavra” em Perga e Atália, cidades costeiras do sul da Ásia Menor, navegando, por fim, para o leste e retornando a Antioquia, seu lar. (Atos 14:23-26) Paulo e Barnabé devem ter sido recebidos com muita alegria pelos irmãos. Eles haviam estado ausentes por um longo período de tempo, e tinham muito o que contar. O relato diz: “Chegando ali, reuniram a igreja e relataram tudo o que Deus tinha feito por meio deles e como abrira a porta da fé aos gentios.” (v. 27) Não poderia haver mais dúvidas nas mentes dos irmãos judeus. A “porta da fé” agora estava aberta a todos os crentes!



Associação dos Estudantes da Bíblia Aurora