VIDA E DOUTRINA CRISTÃ

A BUSCA PELO POVO DE DEUS — PARTE 2

Gentios convidados para o Corpo de Cristo

“A saber, que os gentios são coerdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho.” — Efésios 3:6

OS SEGUIDORES de Cristo, após a sua morte e ressurreição, multiplicaram-se significativamente. No entanto, eles eram compostos apenas de judeus, e não havia o suficiente para completar o corpo de Cristo. Deus então começou a chamar e escolher discípulos dentre os gentios. O primeiro registro de um gentio convertido é de um centurião romano chamado Cornélio. Lemos a respeito dele: “Havia em Cesareia um homem chamado Cornélio, centurião do regimento conhecido como Italiano. Ele e toda a sua família eram piedosos e tementes a Deus; dava muitas esmolas ao povo e orava continuamente a Deus.” — Atos 10:1, 2, NVI

Parece que esse centurião era a mesma pessoa mencionada anteriormente em Mateus 8:5-10 e Lucas 7:1-9. O relato de Mateus diz o seguinte: “E, entrando Jesus em Cafarnaum, chegou junto dele um centurião, rogando-lhe e dizendo: Senhor, o meu criado jaz em casa paralítico e violentamente atormentado. E Jesus lhe disse: Eu irei e lhe darei saúde. E o centurião, respondendo, disse: Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado, mas dize somente uma palavra, e o meu criado sarará, pois também eu sou homem sob autoridade e tenho soldados às minhas ordens; e digo a este: vai, e ele vai; e a outro: vem, e ele vem; e ao meu criado: faze isto, e ele o faz. E maravilhou-se Jesus, ouvindo isso, e disse aos que o seguiam: Em verdade vos digo que nem mesmo em Israel encontrei tanta fé.”

Jesus acrescentou: “Mas eu vos digo que muitos virão do Oriente e do Ocidente e assentar-se-ão à mesa com Abraão, e Isaque, e Jacó, no Reino dos céus; E os filhos do Reino serão lançados nas trevas exteriores; ali, haverá pranto e ranger de dentes.” (vs.11, 12) Essa declaração profética feita por Jesus indicou que muitos em Israel não aproveitariam a oportunidade para se tornarem membros do corpo de Cristo, e que Deus se voltaria para os gentios para encontrar um povo para seu nome. Foi apropriada a observação de Jesus de que ele não havia encontrado “tanta fé” em todo o Israel, ao elogiar a fé daquele centurião.

UM CENTURIÃO RESPEITADO PELOS JUDEUS

Lucas fornece em seu relato alguns detalhes adicionais dessa experiência. Ele começa dizendo que, quando Jesus terminou de falar ao povo, ele “entrou em Cafarnaum. E o servo de um certo centurião, a quem este muito estimava, estava doente e moribundo. E, quando ouviu falar de Jesus, enviou-lhe uns anciãos dos judeus, rogando-lhe que viesse curar o seu servo.” (Lucas 7:1-3) Observamos por meio desse relato, que o centurião, um gentio, não se aproximou de Jesus diretamente, mas enviou anciãos de Israel para pedir-lhe o favor de curar o seu servo.

Os versículos seguintes nos dizem porque os anciãos judeus atenderam tão prontamente o pedido do centurião. “E, chegando eles junto de Jesus, rogaram-lhe muito, dizendo: É digno de que lhe concedas isso. Porque ama a nossa nação e ele mesmo nos edificou a sinagoga. E foi Jesus com eles.” (vs.4-6) O relato continua em harmonia com o de Mateus, incluindo a declaração de Jesus de que o centurião demonstrou mais fé do que todo o Israel. O relato de Lucas sobre este evento conclui informando-nos que os anciãos judeus que trouxeram Jesus, voltaram à casa do centurião e “acharam são o servo enfermo.”. — v. 10

Logicamente, qualquer pessoa a quem Deus escolhesse para fazer parte do corpo de Cristo primeiramente teria tido algum contato com os ensinos de Jesus. Não sabemos quando Cornélio foi até Cesareia, que ficava na Judeia, mas provavelmente foi antes do início do ministério de Jesus. Observamos a oportuna direção de Deus nesse assunto. Ser deslocado da própria pátria para uma terra distante era improvável naquela época, a menos que a pessoa estivesse no serviço militar, ou na política romana. Como oficial do exército, Cornélio foi evidentemente designado para alguma responsabilidade na região da Judeia. Enquanto estava lá, ele possivelmente observou a forma de adoração de Israel, comparando-a com sua própria. Talvez tenha percebido a inutilidade de servir a múltiplos deuses pagãos e aceitado a adoração do único Deus verdadeiro de Israel. De qualquer modo, Deus preparou Cornélio e os de sua casa para o maior de todos os favores — um convite para correr pelo alvo do prêmio da chamada celestial!

UM ANJO APARECE

O registro da conversão de Cornélio encontra-se em Atos capítulo 10. Um anjo do Senhor lhe apareceu em uma visão, e instruiu-o a mandar buscar Pedro, que estava em Jope, na casa de um curtidor chamado Simão. Cornélio obedeceu, enviando dois de seus servos e um devoto soldado. (vs. 1-8) Por volta daquele mesmo tempo, Pedro teve uma experiência muito incomum. Ele foi ao terraço para orar. Ele estava com fome e queria comer, mas enquanto a refeição estava sendo preparada, ele teve uma visão. Nesta visão, apareceu como que um “grande lençol atado pelas quatro pontas” descendo do céu. Nele estavam animais considerados impuros de acordo com a lei judaica. Uma voz disse: “Levante-se, Pedro; mate e coma”. Mas Pedro respondeu: “De modo nenhum, Senhor! Jamais comi algo impuro ou imundo!” A voz lhe falou segunda vez: “Não chame impuro ao que Deus purificou.” — vs. 9-15, NVI

Essa mesma mensagem foi repetida mais duas vezes. Enquanto Pedro ponderava o significado, os homens enviados por Cornélio estavam à porta perguntando se Pedro estava hospedado ali. O Espírito Santo permitiu que Pedro associasse as três instruções da visão sobre comer os animais impuros, com os três gentios que haviam vindo em nome de Cornélio. (vs 16-21) Ao explicar sua missão, a descrição dada a Pedro, a respeito de Cornélio, é notavelmente semelhante à descrição de Lucas 7:5 a respeito do centurião romano. Lucas 7:5 diz: “Porque ama a nossa nação e ele mesmo nos edificou a sinagoga.” Atos 10:22 diz: “Cornélio, o centurião, varão justo e temente a Deus e que tem bom testemunho de toda a nação dos judeus.” Um centurião romano que amava Israel o suficiente para construir uma sinagoga seria um homem muito incomum. O conhecimento de suas boas ações seria divulgado em toda a nação. É improvável que existissem dois centuriões que correspondessem a essa descrição única.

Pedro hospedou os visitantes durante a noite, e no dia seguinte todos eles viajaram para Cesaréia com irmãos de Jope os acompanhando. Quando chegaram à casa de Cornélio, encontraram um grande grupo de parentes e amigos próximos. (v.23, 24) O soldado “devoto” enviado nessa missão, bem como a presença desses associados, nos dá uma visão mais profunda da vida de Cornélio. Sua devoção ao Deus de Israel não era secreta, e outros haviam sido convencidos a adorá-Lo também. Quando Cornélio viu Pedro chegando, ele caiu a seus pés, adorando-o. Pedro explicou que isso não era necessário — ele era um homem comum. (vs. 25, 26) Ele também disse, lembrando-lhes de um ponto da Lei judaica que eles provavelmente estavam cientes: “Vós bem sabeis que não é lícito a um varão judeu ajuntar-se ou chegar-se a estrangeiros; mas Deus mostrou-me que a nenhum homem chame comum ou imundo.” — v. 28

O TESTEMUNHO DE CORNÉLIO

Após a indagação de Pedro sobre o motivo de terem ido buscá-lo, Cornélio relatou tudo o que acontecera a respeito do aparecimento do anjo. (vs. 29-33) Pedro exclamou: “Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas”, e começou a explicar a razão do interesse de Deus pelos gentios. (vs. 34-43) Ele falou sobre Jesus — como ele andou “fazendo o bem e curando todos os oprimidos do diabo”. É digno de nota que Pedro falou dos ensinamentos de Jesus de uma maneira que dava a entender que já estavam familiarizados com eles, dizendo: “A palavra que ele enviou aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesu Cristo… esta palavra, vós bem sabeis.” — vs. 36, 37

Como dito por Pedro, o Espírito Santo veio sobre seus ouvintes e eles receberam o dom de falar em línguas estrangeiras. Por causa desse sinal, nenhum dos irmãos judeus ali, assim como Pedro, duvidaram de que os gentios haviam sido chamados por Deus. Cornélio e toda a sua casa foram batizados, e Pedro ficou com eles por vários dias. (vs. 44-48) Embora o nome de Cornélio seja lembrado como sendo o primeiro gentio convertido ao cristianismo, todo o grupo reunido em sua casa havia sido convidado por Deus para buscar a chamada celestial.

A seleção desse primeiro grupo de gentios marcou o fim do favor exclusivo a Israel para terem a grande honra de ser parte da classe da igreja. A partir desse ponto, não haveria “nem judeu nem grego”, mas todos seriam “um em Cristo Jesus”. (Gál. 3:28) O caminho estava agora aberto para os gentios fazerem parte do corpo de Cristo, e o testemunho da Igreja Primitiva, sob a orientação dos apóstolos, começaria a divulgar o Evangelho a mais gentios.

O INTERESSE DOS GENTIOS CRESCE

A perseguição intensa havia levado muitos irmãos judeus de Jerusalém para outras terras, resultando em uma difusão geral da mensagem da verdade. (Atos 8:1, 4) No início, aqueles que foram para outras regiões pregaram o Evangelho “somente aos judeus.” (Atos 11:19) Logo, porém, a mensagem deles também chamou a atenção dos gentios, e, à medida que seu interesse no Evangelho aumentava, alguns se tornaram crentes e começaram a se associar com os irmãos judeus.

Tal era a situação em Antioquia, uma cidade a cerca de 480 quilômetros ao norte de Jerusalém. Lemos: “E os que foram dispersos pela perseguição que sucedeu por causa de Estêvão caminharam até à Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra senão somente aos judeus. E havia entre eles alguns varões de Chipre e de Cirene, os quais, entrando em Antioquia, falaram aos gregos, anunciando o Senhor Jesus. E a mão do Senhor era com eles; e grande número creu e se converteu ao Senhor.” — Atos 11:19-21

As notícias desta afluência de gentios para a igreja em Antioquia chegaram aos ouvidos dos apóstolos em Jerusalém, que escolheram Barnabé para ir avaliar a situação. Ele era uma boa escolha pois havia tido uma associação anterior com gentios quando morou em Chipre, e provavelmente podia se comunicar bem com a língua local. Quando chegou, Barnabé encontrou toda a congregação — judeus e gentios — regozijando-se juntos no conhecimento do plano de Deus e ansiosos por saber mais. Ele se dispôs a ajudá-los tanto quanto podia em ampliar os estudos e a comunhão cristã, pois “era homem de bem e cheio do Espírito Santo e de fé”. Por causa de sua valiosa ajuda, a igreja em Antioquia começou a prosperar e “muita gente se uniu ao Senhor.” — vs. 22-24

BARNABÉ PROCURA SAULO

Enquanto Barnabé observava o interesse crescente dos irmãos gentios pela verdade, sua mente, sem dúvida, voltou-se para o que o Senhor havia declarado sobre o ministério especial de Saulo aos gentios. (Atos 9:15) Convencido de que Saulo teria um interesse vital no que estava acontecendo, Barnabé foi a Tarso para encontrá-lo. Saulo, cujo nome Deus logo mudaria para Paulo, voltou com Barnabé para Antioquia, e foi lá que seu ministério como apóstolo teve início. Essa grande congregação em Antioquia, composta de irmãos judeus e gentios, foi a primeira desse tipo, e foi onde os irmãos foram primeiramente chamados de “cristãos”. — Atos 11:25, 26

Durante aquele tempo, uma fome veio sobre a região e, evidentemente, afetou severamente os irmãos em Jerusalém e na Judeia, que já eram bastante pobres. Quando a congregação em Antioquia soube da situação, fizeram uma coleta e enviaram-na pelas mãos de Barnabé e Paulo para ajudar seus amigos em Jerusalém. (vs. 27-30) Essa missão também deu a Barnabé a oportunidade de fazer um relato de primeira mão sobre a obra de testemunho que estava prosperando entre os gentios, e de familiarizá-los com o papel significativo de Saulo naquela obra. Sem dúvida, a dádiva que juntos trouxeram ajudou os irmãos judeus a perceberem a mão de Deus nesses importantes assuntos. Depois de completarem sua missão, os dois viajantes voltaram a Antioquia, e João Marcos, sobrinho de Barnabé, os acompanhou. — Atos 12:24, 25

Barnabé e Saulo foram escolhidos como “profetas e mestres” na igreja de Antioquia, junto com outros três irmãos, “Simeão, chamado ‘o Negro’; Lúcio, de Cirene; Manaém, que havia sido criado junto com o governador Herodes”. (Atos 13:1, NTLH) Como mestres, eles tinham experiências diferentes, e vieram de lugares distantes. Barnabé tinha vivido na ilha de Chipre; Saulo veio de Tarso, na Ásia Menor; Lúcio era de Cirene, uma cidade no Norte da África. Não se sabe com certeza de onde Simeão, chamado “o Negro” (ou Níger) veio, mas imagina-se que também possa ter vindo da África. Manaém era da realeza judaica, tendo sido um irmão adotivo de Herodes, o tetrarca, e, muito provavelmente, criado em Jerusalém. Como era apropriado que na grande congregação de irmãos judeus e gentios em Antioquia, cinco anciãos com antecedentes tão diferentes fossem escolhidos para ensinar os irmãos. Fielmente, esses líderes da Igreja Primitiva “ministraram ao Senhor”, à medida que os gentios começaram a se unir aos judeus por aceitarem o convite para fazerem parte do corpo de Cristo. — v. 2



Associação dos Estudantes da Bíblia Aurora