VIDA E DOUTRINA CRISTÃ

Seus últimos dias

“Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer.” — João 17:4

O QUE uma pessoa faria se soubesse que tem apenas mais alguns dias de vida? A resposta que cada um daria depende em grande parte de como encara a vida de modo geral e sua concepção do que acontece após a morte. Um ateu que, em face da morte certa, continue a acreditar que aquele momento é o fim de tudo, pode facilmente decidir aproveitar ao máximo seus últimos dias de existência. Portanto, é capaz de se entregar a grandes festanças. Alguém que acredite no ensino falso da Idade das Trevas relativo à doutrina do tormento eterno para os ímpios provavelmente fará tudo ao seu alcance para escapar de tal destino horrível ao morrer. Já um fiel seguidor das pisadas do Mestre, por não temer a morte, simplesmente desejará se certificar de não deixar inacabado ou pendente nenhum aspecto do pacto que fez para fazer a vontade do Pai Celestial. Essa foi a atitude de Jesus, e ele é nosso exemplo perfeito.

Bem poucos do povo consagrado do Senhor tiveram a permissão de saber especificamente quando terminariam sua caminhada de autossacrifício. Portanto, devemos viver cada dia como se esse fosse o último. Devemos zelosamente usar cada oportunidade de serviço, bem como ter a coragem de aceitar e cumprir cada responsabilidade conferida a nós pela providência de Deus. Paulo escreveu: “Temamos, pois, que, porventura, deixada a promessa de entrar no seu repouso, pareça que algum de vós fica para trás.” — Heb. 4:1

Jesus sabia quando havia chegado aos últimos dias de seu ministério terrestre. Ele conhecia a profecia de Daniel que havia predito que o Messias seria “cortado” após as 69 semanas simbólicas contadas a partir do tempo em que havia sido emitida a ordem autorizando os judeus exilados a retornarem a Babilônia “para restaurar, e para edificar a Jerusalém”. (Dan. 9:25, 26) Além disso, ele sabia que seria na “metade” da septuagésima semana profética que seu “sacrifício e a oblação”, ou oferta, “cessariam”. (v. 27) Jesus compreendeu que a metade da septuagésima semana cairia na época da Páscoa judaica, durante a primavera. O mais importante é que ele estava ciente de que era o antitípico Pascoal “Cordeiro de Deus”, e que era a vontade de Deus que ele morresse pelo “pecado do mundo” na data designada para o cordeiro pascoal típico ser sacrificado, ou seja, no 14º dia do primeiro mês religioso de Israel. — João 1:29; Êxodo 12:1-14

A título de esclarecimento, observamos que este ano a maioria dos cristãos lembrará de modo especial a morte de Jesus na Sexta-feira Santa, dia 25 de março. De fato, será apropriado nos lembrar da morte de nosso precioso Redentor naquele dia, bem como seria em qualquer outro dia do ano. Contudo, segundo o calendário judaico, o 14° dia do primeiro mês em 2016 corresponde ao período de 24 h que se inicia após o pôr-do-sol da quinta-feira, 21 de abril. É nesse dia que o cordeiro pascoal típico foi sacrificado e, mais importante ainda, corresponde ao aniversário da morte de Jesus qual “Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo”. (Apo. 13:8) Portanto, vemos que é apropriado fazermos esta consideração dos últimos dias da vida terrestre de nosso Mestre.

Visto que fica claro que Jesus sabia o exato dia em que morreria, é tanto instrutivo quanto inspirador observar como ele se portou e qual era sua principal preocupação durante seus últimos dias. Nosso texto introdutório resume belamente seu ponto de vista: “Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer.” O grande objetivo do ministério de nosso Mestre era glorificar seu Pai Celestial. Ele sabia que o único modo de atingir esse objetivo era por realizar fielmente o trabalho que seu Pai lhe havia designado.

Durante todo o seu ministério, o Mestre foi ao Pai Celestial. Assim, quando Jesus estava a poucos dias do término de seu serviço fiel não havia motivo algum para mudar de proceder. Mas para se tornar plenamente fiel, mesmo até a morte, era necessário que continuasse com seu modo de agir, e que fizesse as mesmas coisas que estavam sendo feitas até então. É aí que vemos o exemplo perfeito da vida de Jesus. Desde o início de seu ministério, Jesus “andou fazendo bem”, usando de modo altruísta seu tempo, energia e habilidades para a bênção de outros, e desse modo estava glorificando ao Pai Celestial. — Atos 10:38

JESUS ENTRA EM JERUSALÉM

Os últimos dias do ministério terrestre de nosso Mestre foram cheios de atividades, começando com sua entrada triunfal em Jerusalém, tendo sido aclamado o Rei dos Judeus. Em tudo o que fez, Jesus seguiu com muito cuidado às instruções registradas para ele no Velho Testamento. No início de seu ministério, observou que um número grande de simpatizantes queria fazer dele rei à força, mas ele não permitiu que isso acontecesse naquela ocasião. (João 6:15) Agora, porém, reconheceu que havia chegado o tempo para certa profecia do Velho Testamento se cumprir. Instruiu seus discípulos a encontrarem um jumento e, de acordo com a profecia, montou nele e entrou na cidade pelos portões, sendo aclamado entusiasticamente como rei por uma multidão. — Zac. 9:9; Mat. 21:1-9; Mar. 11:1-10; Luc. 19:28-38; João 12:12-15

Os inimigos de Jesus não gostaram de todo aquele alvoroço e gritaria e pediram que ele desse ordens para seus discípulos pararem com aquilo. Em resposta, ele explicou que, se as pessoas não fizessem isso, as próprias pedras clamariam. (Lucas 19:39, 40) Que grande fé ele manifestou ali! Jesus sabia que não se tornaria rei de fato naquela ocasião. Essa demonstração de honra, embora momentaneamente entusiástica, na maioria dos casos não emanava de profundas convicções. E de fato, não muitos dias depois, “todo o povo, disse: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos”. (Mat. 27:25) No entanto, o Mestre compreendeu que a aparente entrada triunfal em Jerusalém era uma das experiências pelas quais ele devia passar, e uma parte necessária dos planos que o Pai tinha para ele. Jesus estava tão confiante disso, tão certo que nenhum detalhe da profecia se deixaria de cumprir, que, se fosse necessário, as próprias pedras o aclamariam rei.

Essa é uma lição para todos os que se esforçam em seguir o exemplo de Jesus. Se estivermos proclamando fielmente a verdade assim como o Mestre fez, e com esse serviço manifestarmos o mesmo espírito de empatia e bondade para com os a quem ministramos, podemos eventualmente receber uma medida considerável de apreço pelo que fazemos. Podemos, até certo modo, e temporariamente, ser honrados. Contudo, não deveríamos permitir que tais experiências desviassem nossa mente e coração do proceder de sacrifício exigido por nosso pacto com o Senhor. Devemos nos lembrar de que, se hoje alguns talvez nos honrem, amanhã o Senhor pode permitir que enfrentemos preconceito e oposição.

E isso aconteceu exatamente com Jesus, embora ele poderia ter evitado tais coisas caso tivesse escolhido um proceder menos fiel a seu Pai Celestial. A exaltação na época atual é um teste para os consagrados, especialmente quando a contrastamos com a desonra, a vergonha, o sofrimento e a morte. Jesus passou por esse teste um pouco antes de chegar o tempo de ele ser preso e condenado à morte. Ele possuía uma personalidade maravilhosa e grandes habilidades de persuasão. Portanto, mesmo a essa altura dos eventos, e embora seus inimigos estivessem planejando matá-lo, se Jesus tivesse se desviado de seu proceder de lealdade a Deus e concordado em cooperar com aquelas pessoas, ele poderia ter se tornado um líder proeminente de Israel. Os aplausos do mundo se tornam uma verdadeira tentação para agradarmos a homens de modo a recebermos mais honra, mas Jesus não cedeu a essa tentação.

Após sua entrada régia em Jerusalém montado num jumento, e tendo sido entusiasticamente aplaudido por muitos, Jesus foi para o templo. Ali ele fez algo que aumentou a oposição de seus inimigos — ele expulsou os cambistas do templo. Em conexão com isso, ele denunciou os que haviam sido responsáveis por transformar a casa de oração de Deus em um covil de ladrões. (Mat. 21:12, 13; Lucas 19:45, 46) Jesus então começou a ensinar no templo, e embora os líderes religiosos ‘procurassem matá-lo’, não conseguiram encontrar uma oportunidade, “porque todo o povo pendia para ele, escutando-o”. — Lucas 19:47, 48

FAZENDO O BEM

Enquanto estava no templo naquela ocasião, os cegos e os coxos iam até Jesus e “ele os curava”. (Mat. 21:14) Por mais de três anos ele havia curado os cegos e os coxos, de modo que aquilo não era novidade. No entanto, isso enfatiza que embora Jesus soubesse que ele tinha apenas alguns dias de vida, ele ainda se dispunha a usar seu tempo e energia para ajudar outros. Ele se alegrava em estender a eles as bênçãos que, embora temporárias no momento, sua morte tornariam permanentemente disponíveis a toda a humanidade quando ele se tornasse de fato o rei de toda a Terra. Mesmo restando-lhe poucos dias de vida, Jesus não achou que tivesse o direito de usar esses dias para seus próprios interesses. Ele ainda precisava realizar a obra de seu Pai e, portanto, glorificá-lo.

O ministério de Jesus de modo algum era algo obrigatório, meramente baseado no senso de dever. Ele realmente amava as pessoas, e trabalhava incansavelmente para ajudá-las até o fim. Seu interesse e zelo eram genuínos, e não poderiam ter sido mais intensos, mesmo se ele tivesse esperado converter todo o Israel, ou o mundo, naquela ocasião. Isso se torna evidente pelo fato de que, mais cedo naquele dia, ao entrar em Jerusalém, ele olhou para a cidade e chorou, dizendo: “Ah! se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, [o que] à tua paz [pertence]! Mas agora [isto] está encoberto aos teus olhos.” — Lucas 19:41, 42

À medida que o dia findava, Jesus sabia que seus inimigos estavam em Jerusalém buscando a primeira oportunidade favorável para capturá-lo. Ele não tinha medo disso, mas visto que ainda não havia chegado o dia exato no plano do Pai para ele morrer, ele não arriscou permanecer na cidade naquela noite. Em vez disso, ele e seus doze discípulos foram para Betânia, onde passaram a noite. (Marco 11:11) Nenhum dos relatos do Evangelho nos informam onde em Betânia Jesus e os discípulos pernoitaram, mas pode ter sido na casa de Maria, Marta e Lázaro. Fica evidente que esses amigos especiais os receberam na noite anterior, e o relato diz ter sido seis dias antes da páscoa. (João 12:1, 2) Lembramos que foi nessa ocasião que Maria ungiu os pés de Jesus com o custoso unguento, ou perfume, e depois os enxugou com seus cabelos. — v. 3

DE VOLTA AO TEMPLO

Na manhã seguinte, Jesus e os doze retornaram ao templo em Jerusalém. No caminho, Jesus viu uma figueira que tinha folhas, mas não fruto. Dirigindo-se a ela, ele disse: “Nunca mais nasça fruto de ti” e “a figueira secou imediatamente”. (Mat. 21:18, 19) Jesus falou com a figueira não porque estava com raiva dela, mas porque sabia que nas Escrituras ela simboliza a nação de Israel. (Jer. 24:1-7) A figueira que estava no “caminho” e não tinha fruto, representava a condição de Israel naquele tempo — infrutíferos e rejeitando a Jesus, algo que logo resultaria em serem abandonados e em definharem como nação. Lembramos que posteriormente, um dos sinais que Jesus deu para seu retorno e presença foi uma figueira brotando — representando o retorno do favor a Israel, e, por fim, aceitarem a Jesus qual Messias. — Mat. 24:32

Chegando ao templo, Jesus novamente voltou a ensinar. Logo após ter começado, “acercaram-se dele… os sacerdotes e os anciãos do povo” e exigiram que fossem informados com que autoridade estava fazendo “isto”, referindo-se evidentemente ao seu ensino e à expulsão dos cambistas no dia anterior. (cap. 21:23) Desse ponto e até o fim do capítulo 22, o Mestre fornece uma série de instruções notáveis, direcionadas principalmente aos líderes religiosos judeus que o haviam questionado.

Lembremo-nos que Jesus sabia que tinha apenas mais alguns dias de vida, mas, mesmo assim, continuou a deixar sua luz brilhar, testemunhando às pessoas para as quais ele não tinha muita esperança de se tornar uma bênção real naquele tempo. Contudo, ele havia recebido uma missão de seu Pai, e estava determinado a cumpri-la fielmente. Dirigindo-se aos líderes religiosos que o haviam rejeitado e tramado matar, Jesus aproveitou a ocasião para chamar a atenção para a exata situação em que essas pessoas se encontravam, quais opositoras do plano de Deus.

É nesse discurso que Jesus apresenta a Parábola dos Dois Filhos. Um deles, quando se lhe pediu que trabalhasse na vinha do pai, recusou-se a fazê-lo, mas depois se arrependeu e foi trabalhar. O segundo filho concordou inicialmente em trabalhar, mas depois se arrependeu e não honrou seu compromisso. Os príncipes, ou chefes, dos sacerdotes e os anciãos concordaram que o filho que inicialmente recusou mas depois se arrependeu foi aquele que agradou a seu pai. Daí Jesus aplicou a parábola, dizendo-lhes que os publicanos (cobradores de impostos) e as prostitutas — representados pelo filho que se arrependeu — entrariam no reino de Deus primeiro que eles. A posição deles, Jesus explicou, era a do filho que concordou servir, mas depois não fez isso. Apenas aqueles que fazem a vontade do Pai Celestial — não apenas da boca para fora — são os que entrarão no reino. — vs. 28-32

Na sequência Jesus contou a Parábola do Dono de Casa, ou Proprietário, que “plantou uma vinha”. (vs. 33-41) No Velho Testamento somos informados de que “a vinha do SENHOR dos Exércitos é a casa de Israel”. (Isa. 5:7) Na parábola, Jesus disse que o dono de casa pôs uma cerca ao redor da vinha, construiu um lagar (tanque para pisar as uvas e fazer vinho) e construiu uma torre para o vigia a proteger. O dono de casa então deixou tudo aos cuidados de lavradores e foi viajar para um lugar distante. Depois, o dono de casa enviou seus servos para recolher o produto de sua vinha, mas os lavradores “feriram um, mataram outro, e apedrejaram outro”. Daí ele enviou mais servos, mas “eles fizeram-lhes o mesmo”. Por fim, ele enviou seu próprio filho, mas os lavradores também o mataram, achando que talvez herdariam a vinha. Jesus explicou que quando o dono de casa viesse à vinha, “daria afrontosa morte” aos lavradores que haviam sido tão desleais a ele.

Após ter contado essas duas parábolas, Jesus perguntou aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos se eles haviam lido nas Escrituras sobre a “pedra, que os edificadores rejeitaram” que se tornaria a “cabeça do ângulo”. Ele explicou que “quem cair sobre esta pedra, despedaçar-se-á” e também que “aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó.” (Mat. 21:42-44; Sal. 118:22, 23) Essa ilustração mostra que o reino de Deus seria tirado daqueles líderes religiosos que, até então, eram reconhecidos por ele, e seria dado “a uma nação que dê os seus frutos”. Esta seria o “sacerdócio real” e “nação santa” posteriormente descrita por Pedro. — 1 Ped. 2:9, 10

Isso não era uma denúncia pessoal dos líderes religiosos judaicos, pois Jesus não sentia amargura no coração por eles. Era simplesmente uma declaração franca dos fatos e um testemunho sobre o proceder errado deles e suas inevitáveis consequências. Então, “ouvindo estas palavras, entenderam que falava deles”. Contudo, o coração deles não abrandou. Em vez disso, se pudessem prenderiam imediatamente o Mestre, mas ao verem que a multidão estava a favor dele, preferiram esperar uma oportunidade mais favorável. — Mat. 21:45, 46

Jesus não teve medo daqueles que agora eram seus inimigos. Sua vida estava nas mãos de seu Pai, de modo que contou outra parábola. Um rei preparou uma festa de casamento para seu filho, mas os convidados não compareceriam. Então ele enviou os servos “às saídas dos caminhos”, ou “pelas ruas” para encontrarem outras pessoas para preencherem as vagas. (cap. 22:1-10) Assim, os líderes religiosos foram lembrados mais uma vez de que, por causa de sua infidelidade, outros ocupariam seus lugares na “ceia das bodas”, ou festa de casamento do Rei dos reis. — Apo. 19:7-9

Por terem medo de prender Jesus enquanto a maioria dos presentes ali demonstrava gostar dele, os inimigos de Jesus tentaram armar um laço para ele por meio de “perguntas ardilosas”. Ao fazerem isso, desejavam revelar que a sabedoria deles era superior, e possivelmente mostrar que Jesus não era um instrutor confiável. Eles sem dúvida esperavam que isso faria com que o povo ficasse contra Jesus, dando a eles a tão esperada oportunidade para capturá-lo. Mas esse plano também falhou, de modo que “deixando-o, se retiraram”. — Mat. 22:15-22

Mais tarde naquele mesmo dia os saduceus fizeram a Jesus uma pergunta que tinha que ver com a descrença deles na ressurreição dos mortos. Eles propuseram ao Mestre algo que pensavam ser um argumento irrefutável para provar que não poderia haver uma ressurreição, porque se houvesse, resultaria em caos para a humanidade. A pergunta hipotética era sobre uma mulher que havia tido sete maridos enquanto viva. “Na ressurreição, de qual dos sete será a mulher?” Mas a sabedoria deste mundo fracassou novamente, pois quando as pessoas ouviram a resposta do Mestre, “ficaram maravilhadas da sua doutrina”. — vs. 23-33

UM TESTEMUNHO GERAL

Em Mateus capítulo 23, quatro dias antes de sua morte, está registrada uma mensagem que Jesus deu “à multidão, e aos seus discípulos”. Os líderes religiosos ainda se sentavam “na cadeira de Moisés” quais representantes de Deus perante a nação. Portanto, Jesus exortou seus ouvintes a obedecerem esses líderes — isto é, a “observar” seus ensinos sobre a justiça, mas sem praticarem suas “obras” injustas. — vs. 1-3

Jesus deixou bem claro nesse capítulo que um “ai” — uma exclamação de pesar — por fim sobreviria a esses “condutores cegos”. (vs. 13-35) Eles seriam punidos, bem como toda a nação, e isso não se daria num futuro obscuro e longínquo. Ele disse que aquele ai ‘haveria de vir sobre esta geração’. (v. 36) Daí Jesus emitiu aquele momentoso e fatídico decreto a Israel: “Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta; … desde agora me não vereis mais, até que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor.” — vs. 37-39

PROFECIA SOBRE A SEGUNDA PRESENÇA

Jesus estava prestes a abandonar a descrente nação de Israel, não para sempre, mas até chegar o tempo em que estariam prontos para aceitá-lo como o Messias enviado por Deus. Os líderes estavam conspirando matá-lo, mas com isso Jesus reconheceu que o tempo que o Pai Celestial havia designado para ele “terminar a obra” estava rapidamente chegando ao fim. Embora Jesus houvesse exposto corajosamente os pecados dos líderes religiosos de Israel, e de eles estarem prestes a matá-lo, Jesus se alegrou com a perspectiva de que chegaria o tempo em que ele abençoaria essas pessoas.

Com tal garantia de futuras bênçãos, Jesus e seus discípulos deixaram o templo. Sua obra de testemunho a Israel havia terminado. Ele agora procurava uma oportunidade para instruir e encorajar seus discípulos. Disse-lhes que o templo seria destruído — “Não ficará aqui pedra sobre pedra.” Ao se retirar para o Monte das Oliveiras, os discípulos se chegaram a ele em “particular” e perguntaram: “Quando serão essas coisas, e que sinal haverá da tua vinda [grego: parousia, que significa presença], e do fim do mundo [grego: aion, que significa Era]?” — Mat. 24:1-3

Eles haviam acabado de ouvir Jesus dizer às pessoas que elas não o veriam mais até que ele viesse novamente. Ele havia dito que o templo seria destruído, então eles estavam ansiosos para saberem mais sobre tais eventos. Quando é que essas coisas vão acontecer e como saberemos que o Senhor retornou? Em resposta a tais perguntas, nosso Senhor lhes deu a grande profecia sobre a Era vindoura e seu retorno próximo ao fim dessa Era. Ele não havia falado muito sobre esse assunto anteriormente, pois o tempo para isso ainda não havia chegado. Por não terem o Espírito Santo, os discípulos tinham dificuldade em compreender plenamente as coisas que Jesus lhes dizia. Se tivessem sido confrontados com o fato de que o reino não seria estabelecido naquela época, e que haveria um período de tempo, uma Era intermediária, durante a qual Jesus estaria longe deles, eles teriam se sentido perplexos e desanimados.

No entanto, as verdades que anteriormente teriam sido prejudiciais para eles, agora eram necessárias para seu encorajamento. Eles haviam escutado o próprio Jesus dizer que o templo seria destruído e que ele partiria, para voltar depois. Isso frustrou seus cálculos sobre quando Jesus seria entronizado e reinaria com eles. Indicou-lhes que quando ele foi aclamado como rei no dia anterior, isso não seria sancionado pelos romanos, nem contaria com a aprovação dos líderes religiosos de Israel. Para que os discípulos continuassem tendo fé que Jesus era o Messias, eles precisariam saber mais sobre sua partida e posterior retorno.

Contudo, visto que ainda não haviam sido gerados pelo Espírito Santo, é provável que os discípulos não tenham compreendido o real significado do que Jesus lhes havia dito em resposta. Pela providência de Deus, entretanto, essas circunstâncias permitiram ao Mestre uma excelente oportunidade para descrever uma impressionante sequência de eventos que serviriam de sinais orientadores para seu povo quando chegasse o tempo devido para verem e compreenderem tais coisas. (vs. 4-51) Além disso, sua profecia tem servido para fazer com que os que “vigiam” harmonizem de modo apropriado as palavras de Jesus com as declarações proféticas do Velho Testamento. Por esse meio, e posteriormente por meio dos escritos dos apóstolos, o “espírito de profecia” tem guiado o povo consagrado do Senhor através da noite até que “o dia amanheça, e a estrela da alva” se levante no coração deles. — Apo. 19:10; 2 Ped. 1:19

Explicar essas verdades dispensacionais, ou seja, relacionadas com períodos de tempo, era parte da obra que o Pai Celestial tinha dado ao Mestre para fazer. Embora sua morte se aproximasse, ele estava mais preocupado em terminar sua obra do que com o sofrimento pelo qual sabia que teria de passar para consumar seu sacrifício. Jesus poderia ter dado aos discípulos uma resposta bem mais curta às suas perguntas, mas sua resposta abrangeu muito mais do que a pergunta original. Ele descreveu a obra da Era Messiânica, aquela parte de sua segunda presença que se segue imediatamente aos eventos mundiais calamitosos que são alguns dos primeiros sinais de sua presença invisível.

Se soubéssemos que temos apenas alguns poucos dias de vida, provavelmente ficaríamos tão preocupados conosco mesmos que dificilmente pensaríamos em ajudar outros por lhes informar a respeito de eventos distantes no futuro. Jesus, contudo, não apenas proferiu um maravilhoso sermão profético, mas mostrou que o mundo de Satanás seria destruído em resultado de sua segunda presença, e revelou que logo em seguida haveria uma nova ordem mundial. Na Parábola das Ovelhas e dos Cabritos, ele descreve um tempo em que “todas as nações” receberão a oportunidade de retornarem a Deus e de “herdarem o reino preparado” para elas “desde a fundação do mundo”. — Mat. 25:31-34

A MENSAGEM FINAL AOS DISCÍPULOS

Jesus estava com seus discípulos especialmente escolhidos na última noite antes de sua morte. Ele passou uma parte daquele tempo na “sala no andar superior”, ou “cenáculo”.

Após terem saído da sala no andar superior, e estando a caminho do jardim de Getsêmani, Jesus transmitiu sua mensagem final aos discípulos — registrada nos capítulos 14 a 15 de João — sabendo que em apenas algumas horas ele seria removido do meio deles. Como foram preciosas as coisas que ele falou! “Não se turbe o vosso coração.” “Vou preparar-vos lugar; … para que onde eu estiver estejais vós também.” “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida.” “Aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai.” “E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei.” “Se me amais, guardai os meus mandamentos.” “O Pai … vos dará outro Consolador, … o Espírito de verdade.” “Aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.” “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou.” — cap. 14

“Eu sou a videira, vós os ramos. … Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos.” “Tenho-vos dito isto, para que … a vossa alegria seja completa.” “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim.” “Tenho-vos dito estas coisas para que vos não escandalizeis.” “O Espírito de verdade … vos guiará em toda a verdade.” “Vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará.” “Pois o próprio Pai os ama.” “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” — caps. 15, 16

A OBRA TERMINADA

O Evangelho de João registra então a maravilhosa oração que Jesus fez ao se aproximarem de Getsêmani. (cap. 17) A obra que o Pai lhe dera para realizar estava agora completa, e por meio dela Jesus havia glorificado seu Pai. Como era apropriado que, ao concluir sua obra, ele suplicasse as bênçãos de seu Pai aos que agora o representariam após sua partida. Jesus estava preocupado com seus discípulos, de modo que orou para que fossem “um”, assim como ele e o Pai eram “um” em propósito e desejo. Ele orou para que Deus os “santificasse” pela verdade, e para que soubessem que o Pai os amava do mesmo modo que amava a Jesus.

Em sua oração, Jesus também não se esqueceu do mundo. Ele incluiu em seu pedido o derradeiro propósito da obra redentora — “para que o mundo conheça que tu me enviaste”. Depois de Jesus ter dito essas palavras consoladoras aos onze, em oração ao Pai, ele “saiu com os seus discípulos para além do ribeiro de Cedrom” e entrou no Getsêmani, onde foi traído por Judas e preso. — cap.18:1-12

Para Jesus, a “noite, … quando ninguém pode trabalhar” havia começado. (João 9:4) Agora ele teria de suportar o sofrimento mental e físico que seus inimigos lhe infligiriam. Com plena satisfação, Jesus aguentaria tudo o que fosse necessário para glorificar seu Pai — “Não se faça a minha vontade, mas a tua.” (Lucas 22:42) Sua obra estava concluída, mas ainda assim não escondeu a luz da verdade. Quando Pilatos lhe perguntou se era um rei, Jesus respondeu: “Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo”, explicando, contudo, que seu reino não era “deste mundo”. — João 18:36, 37

Quando Jesus estava pendurado na cruz e sentindo uma dor agonizante, um dos ladrões lhe pediu que se lembrasse dele no reino. Jesus deu mais um testemunho, dizendo ao ladrão, mesmo naquele dia tenebroso de ignomínia e morte: “Estarás comigo no Paraíso.” (Lucas 23:39-43) Ele sabia que apesar de ser crucificado por seus inimigos, seria levantado dos mortos e exaltado como Rei sobre toda a Terra. O resultado de seu reinado seria a restauração do paraíso, onde o ladrão, bem como toda a humanidade, estariam. Eles receberiam a oportunidade de crerem nele, obedecerem às leis de seu reino e viverem para sempre. Por saber de tudo isso, Jesus teve a alegria de usar suas forças que rapidamente se esgotavam para dizer aquilo. Suas palavras estavam em plena harmonia com o que Pedro falaria poucas semanas depois sobre os “tempos da restauração de tudo, dos quais Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas, desde o princípio”. — Atos 3:20, 21

Em seus momentos finais, Jesus clamou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mat. 27:46) Essa era, na verdade, uma citação de Salmo 22. O restante desse Salmo registra eventos que se deram na vida de Jesus. É possível que Jesus tenha meditado nessa oração e fortalecido sua fé, recebendo alívio naquele momento de desespero. Com plena confiança, Jesus disse com seu último fôlego: “Está consumado.” — completamente terminado — “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”, minha vida. — João 19:30; Lucas 23:46

Jesus é nosso grande modelo. Embora nenhum de nós hoje consiga saber precisamente quando entraremos em nossos dias finais, acredita-se entre os cristãos mais esclarecidos pela verdade que esse tempo é curto — talvez mais curto do que pensemos. Como estamos usando nosso tempo? Estamos pensando muito em nós mesmos e em como podemos nos certificar de nossa própria posição no reino? Ou será que nos contentamos, em vez disso, em deixar tais coisas nas mãos de nosso Pai Celestial enquanto que nós, imitando a Jesus, redobramos os esforços para realizar a obra daquele que nos chamou?

Ao nos lembrar de como Jesus usou suas forças para servir aos discípulos porque os amava, será que estamos amando nossos irmãos como ele nos amou? Estamos entregando nossa vida em favor deles, assim como Jesus fez por nós? Todo crente consagrado deve pensar seriamente e com oração nessas perguntas importantes durante esta época, quando em breve celebraremos o Memorial da morte do Cordeiro de Deus. Portanto, que todos consideremos a Jesus e o sigamos até a morte — acreditando em sua promessa de que, se formos fiéis até a morte, receberemos dele a “coroa da vida”. — Apo. 2:10



Associação dos Estudantes da Bíblia Aurora