VIDA E DOUTRINA CRISTÃ

As Parábolas de Jesus — Parte 4

A Parábola das Virgens

“Então o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do esposo.”
— Mateus 25:1

A PARÁBOLA inicia assim e termina com “vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir.” (Mateus 25:13) É uma das respostas de Jesus às questões dos discípulos: “Dize-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá da tua vinda [No Grego: presença] e do fim do mundo [No Grego: era]?”—Mateus 24:3

Ela enfatiza que os discípulos não saberiam o tempo do retorno e presença de Jesus, e que precisariam estar alertas e vigilantes. Os fiéis vigilantes saberiam o tempo do retorno do Mestre ao estarem atentos aos sinais nas Escrituras que começaram a se cumprir naquele tempo, e regozijariam-se nas evidências de sua presença.

Essa parábola não trata apenas de circunstâncias que Jesus reuniu em forma de história. É uma reflexão real do costume matrimonial daquela época. Vemos também uma ilustração clara do ponto essencial da lição que Jesus queria ensinar—a importância de vigiar.

No antigo costume Judaico, entre o noivado e o casamento, a noiva ficava com as amigas, e não podia ver o futuro marido, nem falar com ele. Chegando o dia e hora do casamento, já tarde da noite, o noivo saia de casa com os seus padrinhos, sendo precedido por músicos em seu percurso até à casa onde a noiva estava.

A noiva e suas amigas esperavam ansiosamente pelo noivo. Quando ele chegava com os padrinhos, levava o grupo e a noiva até sua casa ou de seu pai, seguidos por demonstrações de felicidade. No percurso, eram unidos por um grupo de virgens que eram amigas do casal. Eles esperavam se juntar na procissão, tornando-se parte do grupo. Ao chegar na casa do noivo, todos participavam das alegrias do casamento, incluindo a festa.

Essas moças são chamadas simbolicamente por Jesus de “dez virgens.” Na parábola, as virgens saíram muito cedo para encontrar-se com o esposo—e pensaram que ele estava “demorando.” Enquanto esperavam por ele, “adormeceram.” À “meia-noite”, ouviu-se o clamor: “Aí vem o esposo, saí-lhe ao encontro.” Elas se levantaram e “prepararam” as suas lâmpadas.—Mateus 25:5-7

Cinco das virgens são tidas como “prudentes” por terem azeite em suas vasilhas—várias versões dizem “frascos.” Os frascos—cheios de azeite—seriam usados na reposição das lâmpadas para brilharem o tempo todo. As outras cinco virgens são chamadas de “loucas,” (ou “insensatas,” como na Nova Versão Internacional) por não terem azeite suficiente nos frascos. Embora tivessem os pavios, suas lâmpadas “apagaram” por falta de azeite. Elas pediram azeite às virgens prudentes que disseram: “Não seja caso que nos falte a nós e a vós.” Assim, as virgens insensatas estavam despreparadas para irem ao casamento com o esposo.—Mateus 25:2-4,8-10

VIGIAI

“Vigiai” tem sido, sem dúvida, uma bênção para o povo do Senhor em toda a Era Evangélica. Todos foram encorajados na crença de que o retorno de Cristo estava próximo. Os fiéis que haviam terminado sua caminhada de sacrifício antes do retorno de Cristo, estavam mortos e inconscientes do tempo que passou de sua morte até o retorno de Cristo. Quando Cristo retornou, e foram ressuscitados espiritualmente, pareceu-lhes que o retorno de Cristo se deu imediatamente após a morte, e que o estabelecimento do seu reino estava mais próximo. Agora, quando cada fiel seguidor de Jesus termina a sua caminhada de sacrifício, no momento seguinte à morte, recebe a recompensa do outro lado do véu.

A parábola serviu para estimular as “virgens” da Era Evangélica a vigiarem e fazer uma aplicação especial no fim da Era, ensinando que ninguém saberia de antemão o tempo específico do retorno do Senhor, mas revela que à medida que se aproximava o retorno, haveriam alguns que pensariam saber antes do tempo. Eles iriam ao “encontro” dele, mas não teriam azeite suficiente e a luz da verdade se apagaria como resultado da decepção.

É interessante que apenas um evento desse ocorreu. Muitos que haviam se interessados no Segundo Advento, pelo movimento de William Miller, na primeira metade do século 19, previa de antemão o retorno do Senhor ocorrendo em um determinado momento. A parábola indica que o noivo “demorou.” Isso aparentemente expressa o ponto de vista das virgens. Para elas, ele estava demorando, mas na verdade elas é que haviam saído cedo demais para encontrar-se com ele. Sabemos que o plano de Deus é realizado no momento certo, e que não demora. Mateus 25:2-4,8-10

UM SINAL

Além de ser uma exortação para vigiar, podemos considerar que essa parábola está chamando a atenção para um dos “sinais” do retorno do Senhor e de sua segunda presença. Ao responder às perguntas dos discípulos sobre os sinais de sua presença, Jesus falou de profecias do Antigo Testamento. Ele citou Daniel 12:1, que fala de “um tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação,” e referiu-se como “grande tribulação,” fornecendo, então, como um dos sinais de sua presença e do fim da Era.—Mateus 24:21,22

Parece razoável que Jesus utilizou essa parábola para ilustrar o princípio estabelecido em outra profecia relacionada ao tempo do seu retorno, encontrada em Habacuque 2:3 que diz: “A visão é ainda para o tempo determinado, mas se apressa para o fim, e não enganará; se tardar, espera-o, porque certamente virá, não tardará.”

O apóstolo Paulo cita essa profecia e aplica ao tempo do retorno de Cristo. (Hebreus 10:35-38) Paulo indica que a “necessidade de paciência” é uma das lições importantes dessa profecia “porque ainda um pouquinho de tempo, e o que há de vir virá, e não tardará.” É do ponto de vista humano que o Senhor pareceria demorar.

Tiago também falou da necessidade de paciência com relação ao retorno de Cristo: “Portanto, irmãos, sejam pacientes até a vinda [presença] do Senhor. Vejam como o agricultor aguarda que a terra produza a preciosa colheita e como espera com paciência até virem as chuvas do outono e da primavera. Sejam também pacientes e fortaleçam o seu coração, pois a vinda [presença] do Senhor está próxima.”—Tiago 5:7,8.

O sentido de paciência nesses textos é “persistir.” Foi a falta de persistência dos apóstolos no Getsêmani que impossibilitou que eles ficassem acordados e vigiando com o Mestre. Do mesmo modo, no final da Era, aqueles que não têm paciência não podem ser vigilantes e fiéis, pois se tornam espiritualmente sonolentos e ficam frequentemente “dormindo.”

Na metade do século 19, muitos do povo do Senhor ficaram convencidos e entusiasmados de que o retorno de Cristo era iminente. Mas quando parecia que ele estava demorando, o zelo e interesse foi provado. A fé de alguns diminuiu e desapareceu. Mais tarde, quando foi dado o clamor “aí vem o esposo,” o interesse de muitos despertou e reascendeu, regozijando-se na presença de seu Senhor que havia retornado, o zelo foi renovado e estavam prontos para encontrarem-se com o noivo quando chegasse a hora do casamento.

Segundo o costume Judaico, quando as virgens encontravam-se com o noivo e seu grupo, elas o acompanhavam até sua casa. O período dessa jornada dependia da distância da casa do noivo. Já que Jesus não mencionou sobre esse ponto, pensamos que a parábola ensina sobre a lição de vigiar ao longo do período da colheita durante a presença do Mestre.

Cada parte da colheita tem sido importante para a classe da “virgem” permanecer vigilante, devido ao fato da duração do período da colheita ser significativamente maior do que o esperado. Assim, a perseverança tem sido indispensável para que “as virgens” não se tornem espiritualmente sonolentas ou desencorajadas.

Por outro lado, o fato dessa aparente demora ter sido predita, deve ser um grande estímulo para a nossa fé e zelo enquanto vigiamos. Como o período de colheita continua, a garantia da presença do Senhor serviu de modo semelhante. O clamor “aí vem o esposo,” tem sido feito de forma contínua durante todo o período desde o seu retorno. Embora seja verdade que a aparente demora no estabelecimento do reino seja uma prova da nossa fé e paciência, devemos, portanto, estarmos alegres com o fato de que o cumprimento da “visão” não tarda.

A CLASSE DA NOIVA

Às vezes é difícil fazer uma aplicação sobre todos os detalhes de qualquer parábola do nosso Senhor, o mesmo ocorre com a parábola das virgens. As virgens prudentes da parábola parecem claramente retratar os membros da classe da noiva do final da Era que continuam fiéis até a morte. As virgens insensatas, menos alertas e vigilantes, representam bem os menos fiéis a seus votos de consagração.

A parábola não foi dada com o objetivo principal de identificar a noiva de Cristo, mas, conforme já vimos, foi de enfatizar a necessidade em vigiar. A função das virgens no antigo casamento Judaico ensina bem essa lição. A fidelidade delas ficou clara por terem em mãos não somente azeite em suas lâmpadas, mas também um suprimento extra em seus frascos.

O AZEITE DO ESPÍRITO SANTO

O azeite representa o que precisamos para sermos fiéis vigilantes espiritualmente alertas e preparados para ir com o nosso Esposo celestial e entrar no casamento. Em vários exemplos na Bíblia, o azeite simboliza o Espírito Santo. Parece também, que nessa parábola, ter e usar uma grande medida de Espírito Santo é vital para ser um fiel vigilante.

Ter o Espírito Santo requer fidelidade em todas as áreas da vida. Primeiro, devemos entregar totalmente nosso coração ao Senhor, negarmos completamente a nós mesmos e dedicar a vida em conhecer e fazer a vontade do Pai Celestial. Não podemos esperar seguir o nosso próprio caminho, ou fazer nossa própria vontade e ao mesmo tempo ter o Espírito Santo de Deus.

Ter o Espírito Santo também exige o estudo das verdades da Palavra de Deus, e aplicá-la aos assuntos diários da vida. Precisamos aceitar e sermos orientados pela Escritura, independentemente das dificuldades pelas quais passamos, sabendo que são agradáveis ao Senhor.

Ter o Espírito Santo nos impulsiona a sermos fiéis no serviço do Senhor. Fazendo isso, recebemos Espírito de Deus em uma medida cada vez maior. Jesus disse que o Pai estava mais disposto a dar Espírito Santo àqueles que pedirem assim como um pai terreno dá boas dádivas aos seus filhos. (Lucas 11:13) A oração, então, é um outro meio de receber e ser cheio de Espírito Santo.

Sabendo da grande importância do Espírito Santo em nossas vidas, não é estranho ver que as virgens prudentes da parábola não deram o seu azeite para as virgens insensatas. Ao invés disso, disseram para obterem no mercado local. (Mateus 25:9) Ir até o mercado gasta muito tempo para viver uma vida consagrada, já que a hora é de nos humilharmos sob a poderosa mão de Deus, dedicando o nosso tempo para estudar a Bíblia, servir e orar, sabendo do perigo de esperar até que seja tarde demais para “comprar” azeite de Espírito Santo.

SEJAMOS PRUDENTES

A parábola não é projetada para ilustrar quais serão as recompensas dos fiéis seguidores do Mestre. Ela apenas enfatiza que as virgens prudentes são convidadas para o casamento, e que a porta da oportunidade está fechada para as virgens insensatas, as quais o noivo trata como estranhas, e elas ficam muito decepcionadas. As duas classes de virgens não sugere a diferença entre os justos e os ímpios. Afinal, todas eram virgens que, juntas, saíram ao encontro do esposo e acompanharam-no até sua casa. Porém, cinco eram “prudentes” e as outras não.

A maneira pela qual as virgens prudentes mostraram sua fidelidade, em contraste com as virgens insensatas, é a lição vital da parábola, que é de grande importância para nós. Devemos ser vigilantes em todos os aspectos da nossa caminhada cristã. Isso é muito mais essencial agora do que quando o nosso Senhor retornou, pois enquanto caminhamos com o Esposo, não sabemos quando nossa jornada pessoal irá terminar.

Um pouco de sonolência espiritual de nossa parte pode nos dar a impressão de que temos muito tempo para nos prepararmos, quando, à medida em que a nossa caminhada ocorre, o tempo pode ser de fato “curto.” Se, como vigilantes, estivermos diariamente fiéis no uso de todos os meios pelos quais nossos “frascos” sejam mantidos cheios de Espírito, estaremos prontos a qualquer momento para ouvir o Esposo estender seu convite: “Entra no gozo do teu senhor.”—Mateus 25:21



Associação dos Estudantes da Bíblia Aurora