VIDA E DOUTRINA CRISTÃ

As Parábolas de Jesus — Parte 1

A Parábola do Semeador

“Pela manhã semeia a tua semente, e à tarde não retires a tua mão, porque tu não sabes qual prosperará, se esta, se aquela, ou se ambas serão igualmente boas.”
— Eclesiastes 11:6

ESTE MÊS COMEÇAMOS uma nova série de artigos analisando as parábolas de Jesus. Certa ocasião, falando com seus discípulos, o Mestre disse: “As palavras que eu vos digo são espírito e vida.” Muitos que ouviam as palavras de Jesus “lhe davam testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que saíam da sua boca.” (Lucas 4:22) Essas declarações são evidências para o sincero seguidor de Cristo da necessidade de conhecer e compreender as palavras do nosso grande mestre.

Muitos dos ensinamentos e lições que Jesus transmitia eram por meio de parábolas. Geralmente, ele começava suas parábolas dizendo: “O reino dos céus é semelhante a…” Jesus explicou algumas de suas parábolas, enquanto que outras não. Existem parábolas que estão relacionadas com a obra de preparação do reino, e outras com o propósito do reino durante os mil anos de seu governo sobre a terra. Também, algumas fazem referência aos esforços que seriam feitos por Satanás para atrapalhar a obra de preparação do reino.

Os discípulos perguntaram a Jesus porque ele utilizada parábolas quando falava com as multidões. Eles perguntaram: “Por que lhes falas por parábolas?” (Mateus 13:10) Jesus respondeu: “Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado… Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem.” (Mateus 13:11,13) Depois, Jesus citou uma profecia do Antigo Testamento, no livro de Isaías, que predisse que ele usaria esse método de ensino, pois as pessoas não estariam com o seu coração em condições favoráveis para receber uma mensagem tão clara. — Mateus 13:14, 15; Isaías 6:9,10

Pode parecer estranho o fato de Deus não querer que as pessoas no tempo de Jesus pudessem compreender seus planos e propósitos. Afinal de contas, suas palavras foram consideradas “espírito” e “vida”. No entanto, as Escrituras revelam que essa não é a era para a iluminação geral do povo. Porém, a Bíblia nos garante, que virá o tempo em que “a terra será cheia do conhecimento de JEOVÁ, assim como as águas cobrem o mar.” (Isaías 11:9 TB). Enquanto isso, as verdades profundas de Deus referentes ao seu plano para o resgate e restauração da humanidade do pecado e da morte são reservadas para aqueles a quem ele escolhe para revelar.

Jesus disse aos seus discípulos: “Bem-aventurados os vossos olhos, porque vêem, e os vossos ouvidos, porque ouvem.” Depois ele explicou: “Porque em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram.” (Mateus 13:16,17) No “tempo certo”, cada detalhe do plano de Deus será revelado e realizado. Não era o tempo apropriado para os “muitos profetas e justos”, mencionados por Jesus, conhecerem os mistérios do reino dos céus.

Ainda nesse mesmo capítulo, Mateus cita outra profecia do Antigo Testamento. Ele diz: “Tudo isto disse Jesus, por parábolas à multidão, e nada lhes falava sem parábolas; Para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta, que disse: Abrirei em parábolas a minha boca; Publicarei coisas ocultas desde a fundação do mundo.” — Mateus 13:34, 35; Salmo 78:2

Durante a presente Era Evangélica, nosso Pai Celestial está escolhendo aqueles a quem dará a capacidade de compreender as verdades vitais da sua Palavra. Jesus disse: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer.” (João 6:44) Deus prepara os corações daqueles a quem ele chama, a fim de que possam receber a “semente” da verdade. Está além de nossa compreensão o modo de como seu Espírito alcança esse objetivo. Salomão escreveu: “Assim como tu não sabes qual o caminho do vento, nem como se formam os ossos no ventre da mulher grávida, assim também não sabes as obras de Deus, que faz todas as coisas.” — Eclesiastes 11:5

A PARÁBOLA DO SEMEADOR

A parábola do semeador está registrada em três dos quatro relatos dos Evangelhos, na seguinte ordem: Mateus 13:3-8; Marcos 4:3-8 e Lucas 8: 5-8. É uma das duas parábolas de Jesus que ele explica o significado, sendo a outra a parábola do joio e do trigo. A explicação do Senhor sobre a parábola do semeador aparece em Mateus 13:18-23; Marcos 4:14-20 e Lucas 8:11-15.

A parábola conforme narrada em Mateus diz: “Eis que o semeador saiu a semear. E, quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho, e vieram as aves, e comeram-na; E outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda; Mas, vindo o sol, queimou-se, e secou-se, porque não tinha raiz. E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e sufocaram-na. E outra caiu em boa terra, e deu fruto: um a cem, outro a sessenta e outro a trinta.” — Mateus 13:3 - 8:5

SEMEADO AO PÉ DO CAMINHO

Jesus explicou que “a semente é a palavra de Deus.” (Lucas 8:11) “Ouvindo alguém a palavra do reino, e não a entendendo, vem o maligno, e arrebata o que foi semeado no seu coração; este é o que foi semeado ao pé do caminho.” (Mateus 13:19) Em sua explicação, Jesus falou profeticamente de como a mensagem do reino seria recebida. Ao longo da era, a “palavra do reino” já foi apresentada a milhões de pessoas que não compreenderam, e conforme Jesus havia predito, “o maligno” eliminou rapidamente de seus corações.

Caso não fossem avisados de que isso poderia acontecer, certamente seria uma experiência desanimadora para os semeadores. Mesmo assim, é difícil de aceitar. Muitas vezes, aqueles que proclamam a verdade perguntam se isso não se dá pela sua falta de capacidade em “transmitir” claramente a mensagem aos outros. Se possível, é bom que apresentemos a verdade com muita clareza e vigor. No entanto, para não ficarem desanimados, devemos lembrar de que há quase dois mil anos atrás, Jesus predisse que a maior parte das sementes que seriam semeadas cairia pelo caminho e seriam apanhadas pelas “aves do céu.” — Salmo 104:12

O fato é que isso acontece independente dos métodos de como são semeadas essas sementes. Inclusive nos dias de Jesus. Compare como exemplo, as multidões a quem ele ministrava de vez em quando com as poucas pessoas que realmente se tornaram seus fiéis seguidores. O mesmo ocorreu durante o período da Igreja Primitiva. Lembra-se de Paulo quando estava no Areópago e testemunhou a um público considerável, porém, quando terminou seu discurso qual foi o resultado? O relato diz: “Uns escarneciam, e outros diziam: Acerca disso te ouviremos outra vez.” — Atos 17:32

Em nossos dias, os irmãos ficam muito felizes ao ver um bom número de pessoas participarem de um testemunho público e aparentemente apreciarem a mensagem, até pouco tempo depois descobrirem que não tinham interesse suficiente nela. Não foi a falta de capacidade dos irmãos em apresentarem a mensagem que causou isso. Simplesmente o Senhor não colocou em seus corações a compreensão e o apreço pelo que ouviam. A mensagem soou bem para eles, mas foi rapidamente esquecida, tendo em vista que eles não tinham nenhum desejo em aceitá-la.

Isso não significa que devemos deixar de testemunhar a mensagem do Evangelho ou parar de realizar reuniões voltadas especialmente para o público. Também, não implica dizer que não faremos mais esforço algum para divulgar a Verdade. De fato, as oportunidades da era atual da tecnologia são maiores do que no passado — rádio, televisão, mídia digital, sites, publicidade na internet, publicação impressa ou frente a frente com o interessado através de um estande em feiras de exposições.

O fato de que, na maioria das vezes, os nossos esforços de testemunhar só obtêm pequenos resultados, simplesmente significa que, ao darmos testemunho sobre Jesus, devemos lembrar que essa não é a era para a conversão do mundo. Atualmente, Deus está direcionando a mensagem da verdade, principalmente para aqueles que estão sendo chamados para seguirem os passos de Jesus. Esses serão os únicos que responderão à mensagem com apreço sincero. Como nosso texto de abertura aconselha, devemos continuar semeando a semente, pois não sabemos “qual prosperará.”

SOLO PEDREGOSO, SEM RAIZ

Na parábola do semeador, parte da semente caiu em solo pedregoso. Jesus explicou sobre isso, dizendo: “O que foi semeado em pedregais é o que ouve a palavra, e logo a recebe com alegria; Mas não tem raiz em si mesmo, antes é de pouca duração; e, chegada a angústia e a perseguição, por causa da palavra, logo se ofende.” (Mateus 13:20,21). Mais uma vez, esse é o retrato verdadeiro do que tem sido observado pelo povo do Senhor ao longo da era.

Um bom exemplo disso é o que acontece, muitas vezes, quando nos esforçamos em testemunhar aos outros. Trata-se daquelas pessoas que, quando terminamos de compartilhar sobre o plano de Deus, mostram um interesse muito grande pelo que ouviram. Participam da nossa comunhão, conversam, fazem perguntas e mostram evidências de que encontraram a Verdade. Eles podem até perguntar quando e onde as reuniões locais são realizadas, recebendo a informação de bom grado. No entanto, quando chega a próxima reunião, não estão lá.

O que aconteceu? Jesus já havia predito. O “sol” da perseguição se levantou sobre eles e ficaram “queimados.” São ótimas pessoas, desfrutam realmente da Verdade quando ouvem, e às vezes ficam até convencidos sobre ela. No entanto, quando percebem que não é aceito pelos seus amigos, seus familiares e, particularmente, por sua igreja, e que para abraçar realmente a Verdade, muitas vezes, será necessário sacrificar relações terrenas, decidem não continuar. A mensagem não teve “raiz” em seu coração. Se de alguma forma eles poderiam desfrutar da Verdade e continuarem sendo aceitos em sua comunidade e na igreja, ficariam muito felizes por isso. Porém, como se sabe, esse não é o método do Senhor para chamar o seu povo no tempo presente. O evangelho do reino não é aceito, e não será, até que seja estabelecido na terra, quando Deus retirar o “véu com que todas as nações se cobre,” e “o opróbrio do seu povo de toda a terra.” — Isaías 25:7, 8

ENTRE ESPINHOS

Na parábola, algumas sementes caíram entre espinhos. Aqui, a explicação durou mais. Jesus descreveu esses ouvintes como aqueles que, embora pareçam que tenham raiz, “sufocam a palavra,” permitindo com que “os cuidados deste mundo, e a sedução das riquezas,” façam isso. Assim, eles se tornam “infrutíferos” no conhecimento que receberam. (Mateus 13:22) Embora tenham um interesse genuíno na Verdade, amam também outras coisas. Eles permitem que os cuidados da vida ocupem-no bastante, não tendo tempo para o Senhor nem para o seu serviço.

Como Jesus mesmo explicou, eles também permitem que “a sedução das riquezas” consuma seu tempo e atenção. Ao longo da era, muitas pessoas decidiram servir ao Senhor, mas que primeiro iriam acumular uma quantidade razoável de riquezas. Muitos pensaram dessa forma com a intenção de usar para o serviço do Senhor. Eles ignoram o conselho de Jesus que os tesouros acumulados na terra ficarão à disposição da “traça e a ferrugem”, causando sua deterioração e perda de valor. Mateus 6:19

Aqueles, cuja ambição na vida é acumular tesouros na terra, não conseguem perceber que, enquanto eles gastam tempo e energia para alcançar isso, sua “riqueza” celestial está sendo negligenciada. Como diz a parábola, eles não estão dando “fruto” para o Senhor, e, portanto, não estarão qualificados a entrada abundante no “reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” (2 Pedro 1:4-11) É triste quando uma pessoa ouve e aceita a mensagem do Reino, acaba permitindo que coisas insignificantes desse mundo façam isso, ao invés de prosseguir “para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” — Filipenses 3:14

EM BOA TERRA

Algumas das sementes da parábola caíram “em boa terra.” Não tem importância quantas caíram. Jesus explicou sobre isso, dizendo: “Mas, o que foi semeado em boa terra é o que ouve e compreende a palavra; e dá fruto, e um produz cem, outro sessenta, e outro trinta.” (Mateus 13:23) Não temos certeza se os números múltiplos que aparecem possuem algum significado particular, exceto para lembrarmos de que até entre os fiéis, frutíferos seguidores de Cristo, não existe diferença na quantidade de frutos.

O relato de Lucas sobre a parábola omite esses diferentes múltiplos de frutos que foram produzidos em decorrência das sementes que caíram “em boa terra.” Lucas diz que eles são os que “conservam num coração honesto e bom, e dão fruto com perseverança.” — Lucas 8:15

É necessária muita paciência para produzir o fruto do Espírito Santo. Os seguidores do Senhor na “boa terra” são submetidos ao calor da perseguição e ficam “queimados” assim como os crentes que estão em “solo pedregoso”, salvo se as raízes agarrarem as promessas de Deus e, receberem forças para suportar. O mesmo ocorre com aqueles que são ridicularizados e zombados pelos amigos e os mais próximos que, de outro modo “sufocam” a semente que caiu entre os espinhos, sendo capazes de sufocar os espinhos da oposição e da zombaria através de sua fé e confiança no Senhor.

O “semeador” nessa parábola representa todos os fiéis do Senhor, que, tendo sido abençoados pela Verdade, desejam a todo custo compartilhá-la com os outros. Jesus comissionou seus seguidores a irem por todo o mundo para pregar o Evangelho, e essa comissão nunca acabou. Por meio da propagação da Verdade nas mãos do seu povo fiel, o Senhor realiza várias coisas. Por seu direcionamento, agora está sendo realizada a obra da colheita. — Mateus 13:39; 28:19, 20; Atos 1:8

Em todos os nossos esforços para darmos testemunho da Verdade, devemos nos lembrar do que Jesus disse no início dessa parábola, onde ele enfatiza que só aqueles que têm olhos e ouvidos para ouvir responderão ao Evangelho do reino. Os únicos que fazem isso são aqueles a quem o Senhor está atraindo. Lembrando disso, não ficaremos desanimados quando os ouvintes à beira do caminho virarem e fizerem como Paulo disse, “acerca disso te ouviremos outra vez.” Não ficaremos surpresos quando alguns apreciam a mensagem no primeiro momento e não continuam no caminho da verdade. Lamentamos que alguns permitam que os cuidados dessa vida impeçam que permaneçam, mas ficamos alegres quando alguém responde, e de coração honesto e bom, dão fruto com perseverança.



Associação dos Estudantes da Bíblia Aurora