VIDA E DOUTRINA CRISTÃ

O Evangelho Eterno – Parte Final

“Os Outros Mortos”

A primeira frase de Apocalipse 20:5 lê-se assim, “Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram. Esta é a primeira ressurreição.” Esta é uma interrupção estranha no fio do pensamento apresentado no versículo 4, o qual, ao falar dos co-herdeiros de Cristo, conclui com a declaração, “e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos.” Sem a interrupção falando dos outros mortos que não vivem, a conclusão do versículo 4, junto com o versículo 5 se leria, “e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos. Esta é a primeira ressurreição.” O versículo 5 como existe agora diz, “Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram. Esta é a primeira ressurreição.”

Esta é uma contradição categórica porque diz que a primeira ressurreição consiste de “os outros mortos” que não vivem. A Palavra inspirada de Deus não contém nenhuma contradição, de modo que é óbvio que uma interpolação se introduziu cautelosamente no versículo 5 deste capítulo. Isto se demonstra ainda mais pelo fato de que a expressão, “Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram.” não se encontra no manuscrito grego mais antigo — o Códice Sinaítico, nem também não no Vaticano 1160, ou nos manuscritos siríacos. Isto significa que estas palavras foram acrescentadas por algum escriba zeloso, mas descaminhado durante a Idade das Trevas, possivelmente para sustentar a pretensão de que o reino de Cristo já esteve estabelecido e reinando.

Talvez alguns estavam se perguntando, se Cristo já estava reinando, por que os mortos não estão sendo ressuscitados? A declaração de que os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram pudesse ter sido originalmente escrita na margem de um manuscrito como uma observação, e em uma época posterior, foi acrescentada ao texto. Mas, sem importar como sucedessem, estas palavras são uma interpolação, e se reconhecem assim por eruditos eminentes da Bíblia, e de fato, por todos os estudantes sem preconceito da Palavra.

Reconhecendo tais interpolações não é alto criticismo das Escrituras, nem também não é o esforço para conseguir traduções corretas dos textos originais. Quão ricamente têm sido abençoados os estudantes da Bíblia ao reconhecer que as palavras hebraicas e gregas traduzidas como inferno na Bíblia não significam tormento eterno!

É igualmente importante descobrir as interpolações dos textos sagrados para não ser descaminhados por elas. Deveras, se não se reconhecem estas interpolações quando são tão claramente estabelecidas como tais resultariam em pôr a alguém na posição de acrescentar à Palavra de Deus. Isto seria especialmente verdade se a interpolação debaixo da questão se utiliza como o texto principal para apoiar uma doutrina básica à qual alguém pudesse ter aderido.

Na contramão dos pensamentos expressados nesta interpolação particular, o mesmo propósito do reinado milenar de Cristo é para restaurar aos mortos à vida. Como temos visto, Cristo regressa para anunciar “o qual convém que o céu contenha até aos tempos da restauração de tudo, dos quais Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas, desde o princípio.” (Atos 3:19-23) Quão estranho é que tão poucas palavras acrescentadas a Apocalipse 20:5 durante a Idade das Trevas devam usar-se para contradizer ao testemunho de todos os profetas santos de Deus!

Reis e Sacerdotes

O versículo 6 de Apocalipse 20 enfatiza a bênção dos que são levantados à vida durante a primeira ressurreição, e nos diz de novo que governam com Cristo por mil anos. Fala deles como “reis” e “sacerdotes”. Apocalipse 5:9, 10 explica que eles são redimidos dentre os homens, e que seu reinado está na terra.

Os reis exercem autoridade sobre seus sujeitos, e os sacerdotes são os que servem e abençoam ao povo. Quão sem objetivo e inútil seria a obra destes reis e sacerdotes durante os mil anos de seu reinado na terra se não tivesse nem um só ser humano vivente sobre o qual pudessem reinar, nem também não alguém em nenhuma parte que pudesse ser o recipiente das bênçãos de vida que estes eram preparados para dispensar! Parece-nos que o reinar sobre a terra neste tempo poria a estes reis e sacerdotes em uma situação de “encarceramento” semelhante à de Satanás como o mesmo raciocínio falso tem explicado.

Mas, o Revelador explica que ao fim dos mil anos quando Satanás se liberta, as pessoas da terra são em número como a “areia do mar.” (Apoc. 20:8) Não há nada no relato que indica que estes são levantados dentre os mortos justo naquele tempo para dar a Satanás alguém com quem ele possa praticar seus enganos. Ao invés, é claro que esta multidão de humanos são os que têm sido libertados da morte e julgados durante o milênio. Referem-se a eles como os que são entregues da “morte e o Hades.” —vs. 13

A Obra de Três Fases

Os primeiros onze versículos do Apocalipse, capítulo 20, descrevem a obra do milênio desde o ponto de vista do reinado de Cristo no qual ele subjuga e destrói todos os inimigos de Deus e da humanidade. É apropriado que a prisão de Satanás deve mostrar neste quadro, bem como sua libertação e destruição ao fim dos mil anos.

Começando com o versículo 12, o aspecto de julgamento da Era ou Idade Milenar chega a nossa atenção. Não sucede que o princípio narrativo deste versículo seja descritivo de uma obra que segue os mil anos do reinado de Cristo. Ao invés, é uma descrição dos detalhes adicionais que têm que ver com a obra de Cristo através destes mesmos mil anos, isto é, com a obra de julgamento.

Os últimos três versículos do capítulo recordam-nos que através destes mesmos mil anos, os mortos serão restaurados à vida. Aqui, também, e apropriadamente, nos asseguram que “a morte e o Hades” serão destruídos. Esta é a razão pela qual no quarto versículo do próximo capítulo, o Revelador nos diz que “não haverá morte” como resultado do reinado de Cristo.

Mas, que está escrito nestes livros que se abrem? É importante sabê-lo porque o julgamento dos povos se baseará no que está escrito neles. Cremos que Jesus indicou claramente os conteúdos dos livros do Dia de Julgamento quando disse, E, se alguém ouvir as minhas palavras e não crer, eu não o julgo, porque eu vim não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo. Quem me rejeitar a mim e não receber as minhas palavras já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último Dia.” —João 12:47, 48

Aqui Jesus está dizendo claramente que seus ensinos, suas interpretações da vontade e da lei de Deus, serão a base do julgamento durante o Dia de Julgamento. É sem dúvida a revelação destes ensinos aos povos o que é simbolizada pelos livros abertos. Com certeza, os verdadeiros ensinos de Cristo têm sido como um livro selado à grande maioria das pessoas através dos séculos. —Isa. 29:18

As obras dos povos mencionam-se separadamente das coisas escritas nos livros. Serão julgados pelas coisas escritas nos livros “segundo suas obras.” Isto é, suas obras se compararão com o que está escrito nos livros. E não serão suas obras do passado, senão “segundo a sua obra.” —Apoc. 22:12

Um livro da vida se abrirá naquele tempo. Obviamente o pensamento é que à medida que os mortos restaurados retifiquem suas obras de acordo com a vontade de Deus como se revela nos livros abertos, seus nomes serão colocados no livro da vida. Isto é, em verdade, o mesmo propósito da obra do Dia de Julgamento; a saber, dar ao mundo a oportunidade de conhecer e fazer a vontade de Deus como se expressa por meio de Cristo, e assim provar que merecem a vida eterna. —João 12:50

Nenhum propósito teria servido em examinar as obras do passado do mundo da humanidade, já que o Senhor sabe que nenhuma pessoa merece a vida. Jesus veio para dar sua vida como o Redentor do homem, mas a verdade concernente ao Plano Divino de redenção tem chegado a ser muito confusa, de tal maneira que poucos têm tido uma oportunidade justa para ouvir e crer. Ademais, há milhões que não têm ouvido nem sequer uma mensagem confusa do Evangelho. No entanto, Paulo escreveu que é a vontade de Deus que todos serão “salvos” e virão ao conhecimento da verdade. —1 Tim. 2:4-6

Aqui a palavra “salvo” simplesmente denota um despertamento do sono da morte para que todos os que estejam mortos terão a oportunidade de aprender a verdade a respeito de Jesus. Eles aprenderão isto por meio dos livros que se abrirão naquele tempo. Paulo declara-o em linguagem singela nesta passagem quando diz, “Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem, o qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo.” — isto é, quando se abrem os livros.

Os Que Fizeram O Mal

João 5:28, 29 é outra passagem nas Escrituras a respeito do Dia de Julgamento. Lê-se assim, “Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal, para a ressurreição da condenação.[julgamento, Versão Regular Americana, em inglês].”

Um entendimento correto desta passagem indica-se no versículo 24 do mesmo capítulo. Aqui Jesus diz, “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida.” Neste caso a palavra grega traduzida como condenação é krisis. É a mesma palavra que é má traduzida como “perdição” no versículo 29 em algumas traduções antigas da Bíblia. Seu significado verdadeiro é julgamento.

Jesus explica que os que crêem durante a vida atual não entrarão no julgamento futuro dos incrédulos. Claro que não, já que se associarão com ele na obra futura de julgamento. Eles entram na vida agora por fé, e a conseguem verdadeiramente durante a primeira ressurreição. Esta é a razão pela qual Jesus fala deles como os que “sairão para a ressurreição da vida.”

Mas, quanto aos outros, Jesus disse que sairão da morte a “ressurreição da condenação.” Isto é quando entram no julgamento. Sua saída do túmulo será simplesmente um despertamento do sono da morte. Se forem restaurados completamente à perfeição nos tempos da restauração e vivem para sempre, será porque, uma vez iluminados, conformam suas vidas às coisas escritas nos livros.

Isto se entende melhor ao recordar o significado básico da palavra grega krisis que se traduz como “condenação” na versão Almeida. Em realidade, tem o mesmo significado que a palavra crise em português. Sabemos o que significa uma crise na vida de uma pessoa. É um tempo de prova e implica uma mudança possível. Assim será com o mundo incrédulo quando se acordam do sono da morte. Se neste tempo de crise dirigem-se ao Senhor, em vez de abandoná-lo, serão restaurados à perfeição humana completa e viverão para sempre, como o tivesse vivido Adão se não tivesse violado a Lei Divina. Se recusarem escutar e obedecer serão destruídos na “segunda morte,” porque seus nomes não se encontrarão no livro da vida. —Atos 3:23; Apoc. 20:14, 15

As “Ovelhas” e Os “Cabritos”

A parábola de Jesus a respeito das Ovelhas e dos Cabritos é muito reveladora. (Mat. 25:31-46) Ele identifica o tempo quando a parábola se cumpre ao tempo quando vem o Filho do Homem, e se senta no trono de sua glória com todos seus santos anjos. Aqui os santos da idade atual mostram-se com Jesus como “anjos” ou “mensageiros,” de acordo com a palavra no texto grego. Paulo escreveu, “Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo?” (1 Cor. 6:2) Estes são os que se sentarão com Jesus em seu trono. (Apoc. 3:21) São os que são manifestados “com ele em glória.” —Col. 3:4

Isto significa que as “ovelhas” da parábola não são os crentes da Idade ou Era atual. Não, justo como declara a parábola, são todas as nações que se reúnem diante do trono de julgamento, e é de todas as nações de onde se manifestam as duas classes representadas pelas ovelhas e os cabritos. Estão dormindo todos na morte enquanto estão sendo separados? Não parece que é assim porque a parábola indica que as “ovelhas” são muito ativas visitando aos doentes, etc. Em outras palavras, estão vivos e demonstram seu amor pela justiça — sua harmonia com a Lei Divina do amor.

A estas ovelhas simbólicas restaura-se-lhe o “reino preparado… desde a fundação do mundo.” Este é o domínio sobre a terra que foi dado a nossos primeiros pais. Eles o perderam por causa do pecado. Mas, foram redimidos por Cristo, e no Dia de Julgamento se restaurará a todos da raça de Adão que passam as provas de fé e obediência postas neles. Ademais, receberão o galardão da vida eterna.

“O Tempo Aceitável”

O Apóstolo Paulo escreveu, “Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo?” (2 Cor. 6:2) Com freqüência este texto utiliza-se para provar que não haverá nenhum período de prova após a morte, como se Paulo tivesse escrito que a vida atual é o único dia de salvação. Em realidade, Paulo não utilizou a palavra “agora” como uma referência à duração da vida atual, senão à Idade ou Era atual do Plano Divino. Neste texto, ele cita de Isaías 49:8, 9, onde o SENHOR diz, “No tempo favorável, te ouvi e, no dia da salvação, te ajudei, e te guardarei, e te darei por concerto do povo, para restaurares a terra e lhe dares em herança as herdades assoladas;para dizeres aos presos: Saí; e aos que estão em trevas: Aparecei. Eles pastarão nos caminhos e, em todos os lugares altos, terão o seu pasto.”

Paulo está dizendo simplesmente que agora é o tempo quando o Senhor está preservando e ajudando aos que ele lhes dará depois por pacto ao povo, e que então estabelecerá as assoladas heranças, e chamará aos prisioneiros desde a morte. Isto é somente outra maneira na qual as Escrituras revelam que os seguidores de Jesus nesta idade ou era que estão dispostos a sofrer e morrer com ele terão a oportunidade de viver e reinar com ele.

Agora é o tempo, em outras palavras, quando Deus aceitará os sacrifícios dos que estão dispostos a morrer com Jesus. E agora é o tempo quando os que provam que são merecedores atingirão à “grande salvação,” o prêmio do “supremo chamado ou vocação de Deus em Cristo Jesus.” Isto não significa que esta é a única idade ou era na qual a salvação será oferecida aos povos. Ao invés, os que estão sacrificando e sofrendo agora estão sendo preparados para se unir com Cristo em estender a bênção da restauração ao mundo inteiro durante os mil anos do reino.

Sim, haverá tempos de restauração quando “a morte e o Hades” entregarão os mortos. Jesus disse que as “portas do Hades” não prevalecerão contra esta igreja. Estas portas se abrirão e os prisioneiros da morte serão entregues — postos em liberdade por um tempo até que provem que merecem a liberdade permanente da morte. É de modo que os que são batizados em Cristo” e, deste modo chegam a ser junto com ele a Semente de Abraão, abençoarão todas as famílias da terra.

Isto é o significado do Evangelho, as boas novas que foram pregadas primeiro a Abraão. (Gên. 12:3) É o que o Anjo que anunciou o nascimento de Jesus tinha em mente quando o declarou ser “um Salvador, que é CRISTO o Senhor.” É o significado do “evangelho eterno” ao qual se faz referência em nosso texto. É o “evangelho de Cristo” do qual Paulo disse que não teve vergonha. (Rom. 1:16) É um Evangelho do qual cada um que ame verdadeiramente a Deus e à justiça possa estar agradecido e entusiasmado. Que o proclamemos a todos que querem escutar!



Associação dos Estudantes da Bíblia Aurora